Poucos eventos esportivos nos Estados Unidos cativam tanto como o Super Bowl. O que agora se destaca como um feriado nacional estadunidense de fato, reunindo milhões de pessoas no mundo em empolgação compartilhada, nem sempre foi o fenômeno cultural que conhecemos hoje.
Antes da era da televisão, o Super Bowl carecia da grandiosidade que possui agora. A chegada da televisão desempenhou um papel crucial na democratização do acesso ao futebol americano, transformando o jogo em um espetáculo nacional. Em 1977, a TIME o chamou de “Super Show”, estabelecendo paralelos entre seu impacto cultural e eventos nacionais significativos, como a eleição de um presidente ou a observação de astronautas americanos na lua.
“Através de suas técnicas sofisticadas e caras, a televisão transformou um jogo de futebol em a maior experiência compartilhada da nação,” escreveu o jornal, na época.
O jogo do ano passado marcou a terceira transmissão de televisão mais assistida da história, com uma estimativa de 113 milhões de telespectadores acompanhando o jogo, o show do intervalo e os comerciais, nos Estados Unidos. No Brasil, o espetáculo foi assisitdo por mais de 40 milhões de pessoas, um recorde em um país fora dos Estados Unidos.
(Foto: AP Photo/Matt Slocum)
Início do Super Bowl
O Super Bowl inaugural ocorreu em 1967, após negociações entre as duas ligas rivais de futebol americano – a NFL e a AFL. O acordo de fusão resultou na criação de um jogo ao final de cada temporada. Proprietários de equipes de ambas as ligas vislumbraram maior lucratividade e uma maior competição entre os dois lados como resultado dessa colaboração.
Lamar Hunt, dono do Kansas City Chiefs da AFL e figura-chave nas negociações de fusão, sugeriu brincando chamar o novo jogo de campeonato de “Super Bowl”, inspirado no brinquedo de seus filhos, o “Super Ball”. Inicialmente considerado “muito cafona” para um palco tão importante, o nome passou por considerações como “Big One” ou “Pro Bowl”. Eventualmente, o termo “Super Bowl” tornou-se o título oficial em 1969, coincidindo com a fusão formal das duas ligas em 1970.
Os Green Bay Packers, representante da NFL, liderados pelo técnico Vince Lombardi, que hoje dá nome ao troféu, conquistaram o primeiro troféu de campeões em 1967 com uma vitória decisiva por 35 a 10 sobre o Kansas City Chiefs da AFL. O quarterback Bart Starr foi nomeado o MVP, completando 16 de 23 passes para 250 jardas e dois touchdowns durante o jogo.
Curiosamente, o Super Bowl inaugural foi o único na história que não lotou, atribuído a preços relativamente altos dos ingressos, e equipes de cidades com mercados menores (Green Bay e Kansas City). O entretenimento não contou com o mesmo destaque de estrelas que os Super Bowls posteriores, apresentando a banda da Universidade do Arizona, o trompetista Al Hirt e dois homens com mochilas a jato voando pelo céu.
Após o jogo, Lombardi afirmou aos repórteres que o melhor time da AFL “não se compara aos melhores times da NFL”. Dois anos depois, uma equipe da AFL conquistou seu primeiro Super Bowl quando o New York Jets, liderado pelo histórico quarterback Joe Namath, surpreendeu o Baltimore Colts da NFL por 16 a 7 no Super Bowl III.
Recordes e conquistas do Super Bowl
O Pittsburgh Steelers e o New England Patriots detêm o recorde de mais vitórias no Super Bowl na história da NFL, cada um com seis títulos. Logo atrás estão os San Francisco 49ers e o Dallas Cowboys, ambos com cinco vitórias. Os Chiefs, tricampeões, buscam sua quinta aparição nos últimos seis Super Bowls. Os 49ers, que apareceram pela última vez no Super Bowl em 2020 contra os Chiefs, também são “experientes” em SBs.
No entanto, doze equipes ainda não conseguiram conquistar uma vitória no Super Bowl, e quatro equipes nunca fizeram uma aparição. Isso inclui o Detroit Lions, que foi eliminado por pouco na final da NFC deste ano, juntamente com o Cleveland Browns, Jacksonville Jaguars e Houston Texans, que nunca chegaram a um Super Bowl.
Momentos memoráveis na história do Super Bowl
A maior vitória na história do Super Bowl ocorreu em 1990, quando o San Francisco 49ers dominou o Denver Broncos por 55 a 10. Liderados por uma das maiores duplas do futebol americano de todos os tempos, o quarterback Joe Montana e o wide receiver Jerry Rice, os 49ers, entrando no jogo como favoritos por 12 pontos, superaram rapidamente essa modesta vantagem.
A maior virada veio sete anos atrás, quando o quarterback Tom Brady e os Patriots conquistaram uma vitória na prorrogação por 34 a 28 sobre o Atlanta Falcons. Perdendo por 28 a 3 com 8 minutos e 31 segundos para o fim do terceiro quarto, os Patriots marcaram 31 pontos consecutivos em cinco drives consecutivos, incluindo duas conversões de 2 pontos bem-sucedidas, levando o jogo para a prorrogação.
Obs.: Nenhum torcedor dos Falcons se machucou na produção desse texto (eu acho).
A importância do Super Bowl na cultura estadunidense
O Super Bowl transcendeu a categoria de simples jogo ou evento grandioso; hoje, é considerado um ícone da cultura estadunidense. Em uma época em que o futebol americano não despertava grande interesse entre os estadunidenses, especialmente à sombra de esportes como o beisebol, as oportunidades de crescimento estavam atreladas a investimentos de marcas.
Essa tendência se intensificou com o “boom” do consumismo estadunidense após a Segunda Guerra Mundial. Aproveitando esse cenário, o Baltimore Colts e o New York Giants protagonizaram o primeiro jogo transmitido em rede nacional em 1958, um marco significativo para o esporte e o entretenimento. Essa ascensão ganhou ainda mais impulso com a chegada de Pete Rozelle como comissário da NFL nos anos 60. Rozelle desempenhou um papel fundamental em levar o futebol americano para os lares dos estadunidenses por meio da televisão.
Com o aumento das transmissões, a audiência também cresceu, tornando os domingos de NFL cada vez mais comuns na vida dos estadunidenses, assim como o Super Bowl. Frequentemente comparado aos eventos romanos e às batalhas dos guerreiros no Coliseu, o sucesso dos jogos de futebol americano é interpretado como um reflexo da sociedade, destacando-se como um ambiente de violência controlada com a conquista de território como principal objetivo.
Atualmente, é inegável que o Super Bowl não é apenas um evento esportivo, mas algo integrado à vida da sociedade estadunidense e, hoje em dia, global. Embora o crescimento no Brasil seja exponencial, apenas o tempo dirá se esse fenômeno evoluirá para algo enraizado na cultura.
