NFL

Do luxo ao lixo: a carreira de Le’Veon Bell

(por Henrique Rodrigues)Por vários anos considerado o melhor running back da NFL e o protótipo da posição, Bell hoje vive situação completamente diferente. Sem clube desde que seu contrato acabou com o Kansas City Chiefs em março, o jogador recebeu pouco interesse dos times na free agency, apenas dois anos depois de assinar por mais de 50 milhões com os Jets em 2019.Se analisarmos como Bell chegou neste ponto, dá para ver que grande parte da culpa é do próprio running back, tomando decisões bem questionáveis desde 2018. Para entendermos melhor, vamos voltar desde seus tempos de ensino médio.Saindo do high school, Bell foi considerado um prospecto de três estrelas. Não necessariamente ruim, mas longe de ser o suficiente para atrair as principais universidades. No final de 2009, anunciou que jogaria e estudaria em Michigan State.Na faculdade, Bell teve um ano de calouro quieto, mas mostrando que teria potencial para alçar vôos mais altos, terminando o ano com 605 jardas (5.7 por carregada) e oito touchdowns, além de 97 jardas recebidas. Seu segundo ano foi melhor, quase batendo mil jardas, continuando com mais de cinco jardas por carregada (5.2), aumentando seu número de oito para 13 touchdowns e recebendo para 267 jardas. Contudo, foi em seu terceiro e último ano que ele se destacou de verdade.Com 1793 jardas terrestres, 12 touchdowns, 167 jardas e um touchdown recebido, Bell se colocou em boa posição para o Draft de 2013. Com uma ótima carreira por Michigan State, Bell foi escolhido pelo Pittsburgh Steelers com a 48ª escolha, sendo o segundo RB a ter seu nome chamado, depois apenas de Giovani Bernard.Seu primeiro ano na NFL não foi dos melhores. Ele era bem mais pesado quando entrou na liga, e não era a arma no jogo aéreo que foi no seu auge, mesmo recebendo quase 400 jardas. Seu segundo ano, porém, foi bem melhor.Perdendo nove quilos depois do seu ano de calouro, Bell começou a se tornar a arma aérea como ficou conhecido. Deu para ver que a perda de peso ajudou bastante, com suas jardas por carregada saltando de 3.5 para 4.7, e tendo um salto enorme na produção aérea, indo de 45 recepções, 399 jardas e zero touchdowns para 83, 854 e três, respectivamente. Com isso, foi pela primeira vez ao Pro Bowl e eleito primeiro time no All-Pro.Foi nessa época em que o “Killer B’s”, o trio de ataque entre Bell, o wide receiver Antonio Brown e o quarterback Ben Roethlisberger foi formado. Esse grupo foi um dos principais trios de ataque da história da liga. Contudo, eles tiveram a baixa de Bell em 2015, que rompeu o ligamento colateral medial do joelho direito.Mesmo jogando apenas 12 jogos em 2016, conseguiu 1268 jardas e sete touchdowns pelo chão, além da marca de 4.9 jardas por corrida, a melhor da carreira. Esses números mais as 616 jardas e dois touchdowns recebidos levaram Bell ao seu segundo Pro Bowl em dois anos. Foi após essa temporada que o casamento entre Bell e os Steelers começou a desabar. Com o final de seu contrato de calouro, Bell obviamente queria um caminhão de dinheiro. E era merecido já que, além de ter se provado um dos melhores na posição (se não o melhor na época), mostrou também que a lesão de 2015 não o havia atrapalhado.Porém, as duas partes não chegaram em um acordo para extensão, e Bell jogou a temporada de 2017 sob a franchise tag. Geralmente, jogadores que recebem a tag ou jogam mal por ficarem com medo de uma lesão grave e perderem dinheiro ou tem uma das melhores temporadas da carreira. O caso de Bell foi o segundo, com quase 1300 jardas e nove touchdowns pelo chão e recebendo 106 passes para 655 jardas e dois touchdowns, conseguindo assim sua segunda eleição para o 1st Team All-Pro e seu terceiro Pro Bowl.Pelo que foi noticiado, após a derrota para o Jacksonville Jaguars no Divisional Round daquela temporada, Mike Tomlin e Kevin Colbert (head coach e general manager do time) o chamaram e avisaram que ele receberia a tag novamente, mas que dessa vez seria acertado um contrato longo. Como a gente sabe, não foi o que aconteceu.Bell admitiu depois que quase aceitou uma proposta de cinco anos e 70 milhões do time, mas a falta de dinheiro garantido pesa muito quando falamos de um contrato para running back. É do costume do time não garantir dinheiro no contrato de veteranos, com o bônus de assinatura sendo a única quantidade garantida. Mas como a posição tem uma carreira curta, a maioria dos jogadores pedem mais dinheiro garantido, para terem segurança.Esse imbróglio fez com que Bell fizesse greve e não jogasse a temporada de 2018 (o fã mais recente talvez não saiba, mas na época isso foi uma treta enorme).Em 2019, Bell finalmente teve sua liberdade e testou o mercado na free agency. Após ouvir as propostas que recebeu, aceitou a proposta de quatro anos e 52 milhões dos Jets, com 33 milhões garantidos. Muita gente riu na época por três motivos. O primeiro é que ele saiu de um time que era sempre cotado ao Super Bowl para jogar nos Jets do Adam Gase. O segundo é que, quem olhasse somente os valores totais, acharia que ele assinou um contrato pior, o que não é verdade. O terceiro (e pra mim, o pior) é que ele havia dito no passado que não jogaria nos Jets nem se recebesse 60 milhões de dólares.Lembra que eu falei que Bell resolveu não jogar em 2018? Então, foi noticiado que ele engordou bastante naquele ano “de folga”, saindo de pouco menos de 100 quilos para quase 118.Seu primeiro ano em Nova Iorque foi uma decepção, não alcançando nem 800 jardas terrestres e correu para apenas três touchdowns, além de ter seus piores números recebendo desde seu ano de calouro (tirando 2015 quando se machucou).Não podemos colocar tudo em Bell também, já que ele tinha o pior técnico da liga no comando, e Gase nem queria assinar com o jogador em primeiro lugar. Antes da sua primeira temporada com os Jets, rolaram boatos que Adam Gase (era técnico e GM antes da contratação de Joe Douglas para o segundo cargo) tentou trocar o jogador.Durante a temporada de 2020, novamente o time tentou trocá-lo. Como isso não aconteceu, resolveram cortar o jogador um ano e meio após garantirem 33 milhões para ele. Os Chiefs assinaram com o running back, e todo mundo achou que, com Andy Reid, um gênio de ataque, ele voltaria a ser o que era com os Steelers. Mas isso não aconteceu, e ele pouco tocou na bola durante seus poucos jogos no Missouri.Já tendo sofrido uma lesão em 2020, enquanto atuava com os Jets, ele não teve muitas jogadas no ataque dos Chiefs, passando de 10 toques na bola apenas duas vezes na temporada e ficando de fora da última partida do ano, para não se machucar. Nos playoffs, uma atuação muito apagada contra os Browns (duas carregadas, seis jardas e nenhuma recepção em dois passes) e uma lesão antes do jogo contra os Bills marcaram uma temporada muito ruim do jogador.Já saudável para o Super Bowl, Bell novamente não participou do jogo por opção de Andy Reid. Mostrando muito pouco, não teve seu contrato renovado pela equipe, não atraiu interesse na free agency e está desempregado desde março. Ainda por cima, disse que preferiria se aposentar a jogar novamente sob o comando de Reid (lembrando que ele é um dos melhores técnicos da liga). Após ouvir isso, Reid desejou boa sorte ao jogador no futuro, adotando uma postura totalmente oposta à de Bell.A história de Bell, principalmente nas últimas duas temporadas, mostram como a vida na NFL pode ser curta, e que às vezes o mundo não gira, ele dá cinco piruetas e capota.

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