Vini Jr e Seleção Brasileira
Futebol La Liga

Caso Vini Jr: como Brasil pressionou Espanha a punir atos racistas

Há um ano, após os ataques racistas sofridos por Vinicius Junior no estádio do Valencia, o embaixador do Brasil na Espanha, Orlando Leite Ribeiro, realizou reuniões individuais com os três líderes mais influentes do esporte no país: Florentino Pérez, presidente do Real Madrid; Javier Tebas, presidente de La Liga; e Luis Rubiales, que na época era o chefe da Real Federação Espanhola de Futebol.

Ao longo do último ano, diplomatas brasileiros sugeriram mudanças na legislação, ofereceram ajuda e cobraram soluções de políticos, autoridades e dirigentes esportivos espanhóis.

O propósito das reuniões foi “entender a distribuição das responsabilidades sancionatórias, disciplinares e administrativas” entre La Liga, RFEF e Real Madrid, visando “exigir responsabilização nos casos envolvendo Vini Jr”. Em um telegrama enviado ao Ministério das Relações Exteriores, o embaixador Ribeiro descreveu uma situação desanimadora após os três encontros.

– Cumpre reconhecer que meus três interlocutores concordam que os episódios não deveriam ter lugar em nenhum contexto […] No entanto, também é verdade que nem La Liga, nem a Federação e nem o Real Madrid parecem assumir com clareza nenhuma responsabilidade pelo ocorrido. A maior exposição mediática do problema do racismo no futebol espanhol tem evidenciado, pelo contrário, desentendimento, acusações e disputa de poder. – Trecho de correspondência enviada pela embaixada brasileira.

Javier Tebas sobre Vini Jr

De acordo com os relatos do embaixador Ribeiro, o presidente de La Liga, Javier Tebas, reconheceu seu erro ao acusar Vinicius de “difamar La Liga”. Tebas também criticou a inação do Ministério Público da Espanha. O então presidente da RFEF, Luis Rubiales (que mais tarde perderia o cargo por beijar uma jogadora da seleção sem consentimento), focou suas queixas na própria RFEF. Já o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, criticou os outros dois dirigentes. Assim relatou o diplomata brasileiro.

– Para Pérez, a raiz do problema seria bastante simples: os culpados seriam os árbitros e a RFEF. Os primeiros por serem corruptos, a segunda, por inércia e condescendência. Também criticou o presidente da La Liga [Tebas], que se aproveitaria da crise para buscar obter mais poder sancionador. Além disso, Florentino Pérez afirmou que Vini Jr é chamado de “mono” porque é o melhor jogador da atualidade, além de ser o que mais recebe faltas na primeira divisão espanhola.

Nos meses de abril e maio, o embaixador Leite Ribeiro e membros de sua equipe também tiveram reuniões com José Manuel Rodríguez Uribe, o novo presidente do Conselho Superior de Esportes (CSD), além de deputados do Partido Popular (PP), que são oposição ao governo. Durante esses encontros, os espanhóis detalharam a legislação penal espanhola aos seus colegas brasileiros e discutiram possíveis maneiras de alterá-la.

A lei espanhola ainda não foi alterada. No entanto, a condenação dos três torcedores do Valencia nesta semana foi recebida positivamente por ambos os países, por Vinicius Junior e pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, sendo considerada um marco importante na luta contra o racismo nos estádios de futebol da Espanha.