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De campeão e recordista a silenciado pela NBA: conheça mais sobre Craig Hodges, desafeto de Michael Jordan

(por Leonardo Costa)Se hoje os tiros de longe são uma constante na NBA, o mesmo não se pode dizer quando falamos do basquete dos anos 80 e 90. Com raras exceções, os jogadores não arriscavam chutar bolas de três, em uma época de jogo muito mais cadenciado e físico. Dentre as exceções estava Larry Bird, ídolo dos Celtics e lenda do basquete, que conseguiu a proeza de vencer os três primeiros torneios de 3 pontos do All-Star Game, em 1986, 87 e 88.Porém, o texto não se trata de Bird, mas sim de alguém bem menos conhecido e homenageado. Trata-se de Craig Hodges, jogador com currículo invejável, mas que perdeu espaço na liga de maneira repentina, coincidentemente quando cobrou de seus colegas, dentre eles Michael Jordan, maior engajamento e posicionamento sobre as questões raciais nos EUA.Nascido em Chicago que sonhava com a NBAHodges nasceu nos arredores de Chicago em 27 de Junho de 1960, sua formação no basquete se deu em Long Beach State, entre 1978 e 1982, sob o comando de Tex Winter, técnico que anos depois teria papel fundamental em sua carreira.Em 1982 foi draftado pelo então San Diego Clippers, equipe pela qual atuou até 1984, justamente o ano em que a franquia foi para Los Angeles. De lá foram 4 anos pelo Milwaukee Bucks, onde teve suas primeiras aparições no concurso de três pontos do Jogo das Estrelas. Teve uma passagem relâmpago pelos Suns até que, o sonho de jogar em sua cidade natal se tornou realidade.Eis que o técnico Winter, aquele que o comandou antes da NBA, e então assistente-técnico dos Bulls, indica Hodges para a equipe, sabendo de sua habilidade nas bolas longas, sendo uma alternativa para defesas que tentassem fechar as infiltrações de Jordan. Começava a era de ouro dos Bulls e Hodges fazia parte do elenco, mas logo seus posicionamentos políticos começaram a incomodar e a ecoar pela liga.Igualando o feito de Larry Bird[[{“type”:”media”,”view_mode”:”media_large”,”fid”:”5258″,”attributes”:{“class”:”media-image size-full wp-image-19467 aligncenter”,”typeof”:”foaf:Image”,”style”:””,”width”:”2080″,”height”:”1000″,”alt”:””}}]]Em 1990, na sua quinta participação no Three-Point Contest, Hodges enfim sagrou-se campeão, com uma atuação antológica, mesmo ano em que Michael Jordan participou pela única vez do torneio e teve uma performance para apagar da sua carreira. Inclusive, coube a Hodges eliminar Jordan logo no primeiro round.Na temporada seguinte, além do bicampeonato do torneio de 3, com direito a incrível sequência de 19 bolas consecutivas, Hodges conquistou pelos Bulls seu primeiro anel da NBA.O segundo anel da liga veio na temporada 1991-92 e, com ele, o terceiro título consecutivo do Three-Point Contest, igualando Larry Bird e cravando de vez seu nome com um dos maiores triplistas de sua época. Mas, se dentro de quadra os títulos vieram, fora delas as polêmicas em torno de Hodges não paravam de crescer.Choque com Jordan e ‘climão’ na Casa BrancaDesde sempre Hodges foi conhecido por seu ativismo racial e por cobrar de seus colegas o mesmo tipo de posicionamento. Porém, poucos ou quase nenhum deles tornavam públicos seus pensamentos, o que irritava o jogador, que via como incoerência não usar o apelo midiático que um jogador de NBA possui para ajudar em causas sociais.Em Março de 1991, as imagens de quatro policiais espancando o motorista Rodney King e, mesmo com todas as evidências os agressores foram declarados inocentes pela agressão, foi o que bastou para que Los Angeles fervesse durante seis dias, com mais de 60 mortos e 2300 feridos. Perguntado sobre o tema, Jordan deu a seguinte declaração: “eu preciso saber mais sobre isso”.Eram por declarações abstratas como essa que Hodges aos poucos começou a entrar em colisão com o maior astro do basquete mundial. As finais de 1991 estavam por começar e Hodges propôs aos jogadores que fizessem um boicote na primeira partida, afirmando que Magic Johnson e Michael Jordan deveriam participar do protesto por tamanho alcance que a participação deles traria ao movimento. Mas seu apelo foi em vão.Só que Hodges não se dava por vencido e na tradicional visita dos campeões à Casa Branca ele deixou o mundo perplexo ao ir vestido com um ‘dashiki’, vestimenta africana tradicional. Sua ação foi vista como uma afronta pela NBA e, por mais que ele tenha anotado nove bolas de três seguidas no pátio do palácio presidencial, a feição do então presidente George Bush não era das melhores, ainda mais quando Hodges entregou à ele uma carta de oito páginas que afirmava ser “uma súplica para que começasse um plano compreensivo para mudar as coisas após 300 anos de escravidão”.As declarações de Hodges continuavam polêmicas, mas a gota d’água se deu após a primeira partida das finais da NBA de 1992 contra os Blazers. Um artigo publicado por Willian Rhoden no NY Times trazia declarações de Hodges contra seu companheiro Jordan, sobre o silêncio do astro acerca das temáticas sociais e políticas, além da falta de negros atuando como técnicos da NBA (tema bastante atual, não?). Segundo informações, Jordan ficou sabendo das palavras de seu colega pela televisão e, coincidentemente, Hodges não jogou nenhum minuto sequer no jogo 2, além de escassos minutos nos jogos seguintes, bem diferente das rodadas anteriores dos mesmos playoffs.Entretanto, não foi Jordan, ou nem mesmo Phil Jackson, seu então técnico, mas sim Jerry Krause, GM dos Bulls, que deu a notícia a Hodges que ele não seguiria na equipe, com a justificativa de que buscariam alguém mais jovem para substituí-lo.Currículo invejável, mas desempregado[[{“type”:”media”,”view_mode”:”media_large”,”fid”:”5259″,”attributes”:{“class”:”media-image size-full wp-image-19468 aligncenter”,”typeof”:”foaf:Image”,”style”:””,”width”:”2000″,”height”:”1245″,”alt”:””}}]]Aos 32 anos, Hodges estava em busca de uma nova equipe na NBA, mas estranhamente nenhuma das 29 opções possíveis o contratou. Há rumores de que o então Seattle Supersonics fez uma consulta por ele através de Billy McKinney, mas desafortunadamente o negócio não andou.A ideia de que estava sendo boicotado pela NBA começou a passar pela cabeça de Hodges, sobretudo que Michael Jordan era um dos responsáveis por mantê-lo longe da liga. Foram várias as rusgas entre eles, e Craig foi um dos poucos jogadores da época a ousar desafiar Jordan, obviamente não dentro das quadras, mas tentando dar voz aos desfavorecidos.Em 1996 Hodges decide entrar judicialmente contra as franquias da NBA por entender que sofreu boicote na sua tentativa de encontrar uma nova equipe, argumentando que seus posicionamentos anti-racistas e sociais fecharam suas portas na liga. Reavivou as feridas do passado, mas novamente não teve êxito em sua empreitada.Craig Hodges girou o mundo por Turquia, Suécia e Canadá, até que Phil Jackson ofereceu a ele um posto como assistente no Los Angeles Lakers. Foram seis temporadas e dois anéis a mais para Hodges. De lá foi para os Knicks e hoje trabalha em Chicago, treinando jovens de 14 a 17 anos, e segue sendo, como era de se imaginar, um forte ativista social.A All-Star Weekend está rolando em Chicago, e a cobertura completa você acompanha aqui na Playmaker Brasil.

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