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NFL

O dilema dos running backs

 (por Henrique Gucciardi)Quem acompanha a NFL há alguns anos sabe que a liga passa por um processo imenso de desvalorização na posição de running back. Pouquíssimos jogadores recebem uma renovação longa e menos ainda terminam esse segundo contrato. Não é que o jogo corrido deixou de ser importante na NFL, ele ainda é uma peça fundamental no planejamento ofensivo das equipes, mas os jogadores em si estão desvalorizados.Também não é segredo nenhum que o sindicato dos jogadores (NFLPA) é contra o uso da franchise tag, já que ela impede o jogador de ser um agente livre no mercado e não garante que um contrato seja feito, colocando os jogadores em uma situação péssima. Vários são os exemplos de jogadores que ameaçam ou fazem greve, não se apresentando para o training camp após receber a tag. O exemplo mais drástico que tivemos foi do running back Le’Veon Bell, que não jogou a temporada de 2018 após receber a tag pelo segundo ano consecutivo. Para qualquer jogador não é bom receber a franchise tag, mesmo que em teoria seja bastante dinheiro – o valor dela é a média dos 5 maiores salários da posição – porque ela não dá garantias. Mas para running backs essa situação é exponencialmente pior. Como dito, é uma posição que está em um processo de grande desvalorização, os jogadores possuem uma vida extremamente curta na NFL e o risco de lesões sérias é um dos maiores da liga.Para 2023, três running backs receberam a franchise tag: Tony Pollard, dos Cowboys; Josh Jacobs, dos Raiders; e Saquon Barkley, dos Giants. Nenhum deles teve acordo com as suas respectivas franquias e terão que jogar sob a tag nessa temporada. Tony Pollard, curiosamente, é um exemplo do sintoma que afeta os running backs hoje em dia – eles são facilmente substituídos. Após um 2015 ruim, que incluiu uma lesão do quarterback Tony Romo, os Cowboys acabaram com a 4ª escolha geral no Draft de 2016. Mesmo com um jogo terrestre bom o time resolveu escolher Ezekiel Elliott, de Ohio State. Logo em sua primeira temporada ele liderou a liga em jardas terrestres e foi eleito 1st Team All-Pro, sendo a peça crucial para levar o time de Dallas de uma campanha 4-12 em 2015 para uma 13-3 em 2016. Elliott rapidamente se estabeleceu como um dos melhores da posição. Em setembro de 2019 os Cowboys fizeram dele o running back mais bem pago da história na época, com um contrato de 6 anos e $90 milhões. No ano seguinte, Tony Pollard foi escolhido na quarta rodada do Draft. Pollard rapidamente chamou a atenção de todos com a sua habilidade e começou a ganhar mais espaço no ataque, chegando a liderar o time em jardas terrestres ano passado mesmo com quase 40 carregadas a menos. Elliott foi cortado em março e continua sem time.Um jogador de quarta rodada substituiu um jogador que até pouco tempo atrás era um dos melhores da posição e que está sem time tem 4 meses. Os Chiefs acabaram de vencer o Super Bowl com um calouro de 7ª rodada correndo para mais de 800 jardas, os Vikings cortaram Dalvin Cook mesmo ele ainda sendo produtivo, Kareem Hunt e Leonard Fournette ainda estão disponíveis no mercado e por aí vai. Cada vez mais os running backs são substituídos por jogadores mais novos, o que gera um problema muito grande a longo prazo. Situações como a de Bijan Robinson, 8ª escolha geral no último Draft, se tornam cada vez mais raras já que a oferta de running backs vindos do college é enorme.O próprio Robinson, se der sorte, deve acabar recebendo a franchise tag em 5 anos e depois conseguindo apenas contratos pequenos de um ano, se conseguir. E por que isso impacta no longo prazo? Cada vez menos as pessoas vão querer ser running backs porque é um risco enorme de ter uma lesão grave ou acabar desenvolvendo a famosa CTE por problemas de concussão e o benefício, que são esses contratos longos com dinheiro garantido, vão diminuindo, o que futuramente diminui a quantidade de running backs no mercado/Draft.Outro dado que mostra como a situação dos running backs está ruim é o quanto o valor da franchise tag mudou nos últimos 10 anos. Em 2013 o salary cap da NFL, o máximo que os times podem gastar com salário, era de $123 milhões e o valor da franchise tag era de $8.219 milhões. Para essa temporada os times possuem $224.8 milhões disponíveis no cap e o valor da tag de running backs são incríveis $10.091 milhões. Em um espaço de uma década não aumentou nem $2 milhões ($1.901 para ser mais exato). Para exemplo de comparação, a tag de QB mais que dobrou, indo de quase $15 milhões para $32,416,000. Até o valor de kicker e punter teve um aumento maior nos últimos 10 anos. Bijan Robinson, mencionado antes, já é o 9º running back mais bem pago da liga em valor total, mesmo sem jogar um único snap e seu bônus de assinatura é o 4º maior. A não ser que haja alguma medida tomada pelos próprios jogadores, essa situação vai continuar piorando até pelo menos o final da década, quando a liga e o sindicato dos jogadores negociarão um novo acordo trabalhista, e eu imagino que esse problema dos running backs surgirá nas negociações. 

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