(por Henrique Rodrigues)Para o fã mais “casual” de futebol americano, o nome Trevor Lawrence – ou “Sunshine”, como ficou apelidado – é relativamente familiar. Lawrence é considerado, desde o último ano do ensino médio, a primeira escolha de seu Draft, e não por acaso. Além de possuir desde jovem vários atributos procurados em um QB como braço forte, altura, mobilidade, leitura e antecipação, havia outra coisa: “Ele é um vencedor”. Em seus quatro anos de ensino médio, Trevor perdeu apenas 2 jogos e ganhou 52, vencendo 4 títulos estaduais e 2 nacionais.Para esse mesmo fã “casual”, o nome Justin Fields pode ser desconhecido. Fields possuía (e ainda possui) as características de um QB de NFL, assim como Lawrence, mas sem as mesmas conquistas colegiais. Indo para a faculdade, Lawrence e Fields eram #1 e #2 em todas as listas de recrutamento do país, com o primeiro ficando na frente na maioria. No último ano na escola, ambos foram chamados para o programa Elite 11. Esse programa chama os principais quarterbacks que estão se formando no colegial no país inteiro, com o melhor deles sendo decretado MVP no final. Por esse programa já passaram nomes como Tom Brady, Aaron Rodgers, Matthew Stafford, Andrew Luck e vários outros que jogaram ou jogam na NFL. Esse foi o primeiro capítulo da “rivalidade” entre Lawrence e Fields, com o hoje QB de Ohio State sendo vencedor.No College, Lawrence praticamente garantiu a primeira escolha geral de seu Draft logo no ano de calouro. Em seu primeiro ano em Clemson, Sunshine liderou os Tigers à uma campanha invicta que culminou na vitória contra Alabama na final. Enquanto isso, Fields passou 2018 sendo reserva em Georgia. Para 2019 ele resolveu se transferir, já que não queria ser banco mais um ano para Jake Fromm, então ele fez as malas e foi para Ohio State. Ano retrasado ele mostrou porque alguns o colocaram como melhor recruta em 2017, tendo uma campanha muito boa que o levou a ser finalista para o prêmio Heisman, vencido por Joe Burrow. Foi em 2019 também que Fields e Lawrence se enfrentaram pela primeira vez no nível universitário. Na semifinal da temporada passada eles duelaram no Fiesta Bowl, valendo uma vaga para a final contra LSU. O jogo foi disputado até o fim, mas Fields lançou uma interceptação nos lances finais, dando a vitória para os Tigers de Trevor Lawrence, que depois veio a perder a final.O ano de 2020 trouxe, obviamente, muitas dificuldades, especialmente para Fields nesse caso. A conferência que Ohio State faz parte, a Big Ten, não ia ter seus jogos disputados no outono, mas sim na primavera. Isso significaria que os times não iam poder disputar nenhum jogo nacional, como os Bowls de final de ano e, em caso, os playoffs. Vários jogadores foram para as redes sociais e pediram para que a conferência jogasse no outono, inclusive Lawrence e Fields. A conferência fez então uma votação entre as faculdades para decidir, e elas optaram por jogar a temporada normalmente. O problema é que essa votação foi feita no final de setembro, ou seja, enquanto os times da Big Ten decidiam se iam jogar ou não, o resto já havia começado a jogar. Esse é o motivo de Ohio State ter (bem) menos jogos em relação ao resto, além de jogos cancelados por surtos de COVID-19. Isso gerou uma grande confusão, já que as finais de conferência chegaram e Ohio State havia jogado apenas 5 jogos. Pelas regras da Big Ten, os times precisariam ter pelo menos 6 jogos disputados para se qualificar, porém, por “motivos competitivos” que podem ser traduzidos para “a gente vai botar Ohio State na final para eles terem chance de ir pros playoffs”, a conferência resolveu eliminar esse mínimo de 6 jogos, permitindo o time de Justin Fields de jogar a final, na qual ganharam de 22 a 10 contra Northwestern. Do outro lado, Lawrence e Clemson não tiveram vida fácil, por mais que também não tenha sido tão difícil. Como já era esperado, os Tigers amassaram seus oponentes, conseguindo vitórias por 49-0, 42-17 e 73-7, até que veio o baque: Trevor Lawrence testou positivo para a COVID-19, logo antes do jogo mais importante da temporada, que era contra Notre Dame. Sem o principal jogador do time, Clemson não conseguiu ganhar dos Fighting Irish, perdendo o jogo por 47-40. Com a volta de Lawrence ao time, as coisas voltaram ao normal para os Tigers, que ganharam mais um título da ACC, em uma revanche contra Notre Dame (que normalmente não é filiada a uma conferência). Clemson não deu chances para Dame, vencendo por 34-10.A temporada de 2020 praticamente garantiu Lawrence na primeira escolha geral no próximo Draft, e, a não ser que algo inesperado ocorra, ele deve ser escolhido pelos Jaguars em abril. Como Ohio State não fez muitos jogos, e Fields foi meio oscilante nessas partidas, ele viu a mídia colocando outro quarterback como o segundo melhor da classe: Zach Wilson, de BYU. Isso tudo nos leva ao Sugar Bowl, disputado no dia 1º. Pelo segundo ano seguido, Clemson/Lawrence enfrentaram Ohio State/Fields, com os Tigers sendo favoritos. Nessa partida, Fields lembrou a todos que ele é um quarterback mais parecido com Lawrence que as pessoas lembram, liderando os Buckeyes a uma acachapante vitória por 49-28, passando para 385 jardas, 6 touchdowns e uma interceptação, com apenas 6 de seus 28 passes não parando nas mãos de um companheiro.E isso tudo levando uma pancada na região do quadril/costela que o deixou com muitas dores quase que a partida inteira. Enquanto Lawrence agora vai decidir se vai para o Draft em 2021 ou se voltará para seu último ano na faculdade, Fields se prepara para a final contra Alabama, na missão de liderar os Buckeyes ao primeiro título desde 2014, e, dependendo do que acontecer na final dia 11/01, e quem for o técnico dos Jaguars na hora de fazer a escolha, “roubar” a primeira escolha geral de Trevor Lawrence e ser o primeiro jogador escolhido em abril.Tudo o que podemos esperar é que eles consigam jogar na mesma conferência, para que possamos ver vários jogos entre os dois no nível profissional. Será que estamos olhando para um novo Tom Brady x Peyton Manning?
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