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Steve Spagnuolo: o herói “desconhecido” por trás da dinastia do Kansas City Chiefs

Steve Spagnuolo não aparece muito, é discreto e quieto, mas é muito importante. Em seu primeiro ano como titular do Kansas City Chiefs, Patrick Mahomes surpreendeu a todos que acompanhavam a NFL, fazendo em campo o que jamais havia sido feito com uma bola oval. Porém, apesar de possuir o ataque mais dinâmico da liga desde o  “The Greatest Show on Turf” (apelido por qual era chamado o ataque do St. Louis Rams entre 1999 e 2001), os Chiefs acabaram perdendo para os Patriots no AFC Championship Game.

Grande parte da responsabilidade pelo insucesso na temporada foi colocado em cima da defesa coordenada por Bob Sutton, que foi a segunda defesa que mais cedeu jardas ao longo do ano de 2018 em toda a NFL.

Para o ano seguinte, Andy Reid optou por fazer uma mudança do coordenador defensivo, demitindo Sutton e trazendo Spagnuolo (conhecido como “Spags”), velho conhecido que havia trabalhado com ele entre 1999 e 2006 no Philadelphia Eagles.

Spagnuolo rapidamente transformou a defesa de Kansas City – que sob seu comando acabou como top 10 da liga em pontos cedidos em todos menos um ano. Porém, em 2023, a defesa dos Chiefs deu um novo salto, se transformando em uma das melhores da liga e sendo capaz de anular os principais quarterbacks da NFL em momentos cruciais.

(Foto: Scott Winters/Icon Sportswire)

Trajetória de Spagnuolo na NFL

Steve Spagnuolo adentrou a NFL em 1999, justamente na comissão técnica de Andy Reid (até então head coach dos Eagles). Entretanto, Spags realmente veio fazer sucesso em 2007; quando, em sua primeira temporada como coordenador defensivo do New York Giants, anulou o ataque liderado por Tom Brady e Randy Moss e ajudou a sua franquia a se tornar campeã do Super Bowl sobre um dos melhores times da história e até então invencível New England Patriots.

Após o sucesso como coordenador defensivo, Spagnuolo foi contratado como head coach pelo St. Louis Rams em 2009. Porém, após apenas 3 temporadas como treinador da equipe, ele foi demitido com um dos piores trabalhos da história da liga.

Isso deu início a derrocada na carreira do técnico, que em 2012 comandou a pior defesa da história da liga no New Orlean Saints e em 2013 e 2014 teve cargos menores no Baltimore Ravens.

No ano seguinte, ele voltou aos Giants para reassumir o cargo de coordenador de defesa. Mas logo em sua primeira temporada a defesa cedeu o maior número de jardas de passe na história da liga. Spags ainda passou mais duas temporadas com o time melhorando a defesa ano a ano, mas o insucesso do time gerou a demissão do head coach e de toda a comissão técnica.

Spagnuolo então, ficou um ano fora da liga, até ser contratado por Andy Reid – o homem que lhe deu a primeira oportunidade na NFL – para ser o coordenador defensivo de uma franquia com um futuro promissor, mas que vinha batendo na parede nas temporadas anteriores. Pelo Kansas City Chiefs, ele ganhou mais 2 Super Bowls e terá a oportunidade de conquistar o seu quarto título na carreira no próximo domingo.

Casamento perfeito: a cultura dos Chiefs e Spagnuolo

spagsbushAo chegar em Kansas City, Spagnuolo encontrou uma defesa em transição, com a chegada de vários jogadores novos após o fracasso do ano anterior. O general manager Brett Veach renovou a defesa, com a filosofia de adquirir jogadores jovens, versáteis e com muita vitalidade física, seja via draft ou free agency.

Após um início turbulento em que sofreu muitas críticas, Spags conseguiu enquadrar todas as novas peças ao seu esquema defensivo, focado em pacotes de blitzes pesados e muita criatividade na rotação da secundária; a defesa cresceu ao longo da temporada, e culminou o ano cedendo apenas 20 pontos para o até então melhor ataque da liga no Super Bowl.

Entretanto, Veach manteve sua filosofia de contratações ao longo dos anos, sempre renovando bastante as peças ano após ano. Para essa temporada, apenas 2 jogadores de 2019 permanecem no elenco (Chris Jones e Derrick Nnadi – fora do Super Bowl devido a lesão). E assim a defesa dos Chiefs ficou conhecida por começar as temporadas de forma lenta, mas crescer exponencialmente nos momentos cruciais.

Para 2023, a manutenção de vários jogadores da temporada anterior, junto com as adições cruciais de Drue Tranquill e Mike Edwards e a confiança dos seus comandados (como diziam suas camisas no AFC Championship Game contra os Ravens: “In Spags We Trust”) levaram a defesa a outro patamar, tornando essa a melhor versão da defesa de Spagnuolo em Kansas City.

Análise tática: as razões por trás do sucesso

Apesar de todo o êxito defensivo dos Chiefs, apenas dois jogadores foram escolhidos para o time All Pro da liga (Chris Jones e Trent McDuffie) e apenas Chris Jones foi selecionado para o Pro Bowl. Então, como que Spagnuolo conseguiu números tão expressivos sem contar com grandes estrelas?

Primeiramente, Spags é capaz de se adaptar aos ataques adversários e mudar seu plano de jogo semana a semana como ninguém. Contra Josh Allen e o dinâmico ataque dos Bills, Spagnuolo recuou a defesa, obrigando Allen a quebrar seu instinto natural e ser mais paciente com a bola (Allen lançou para 16 passes completos atrás da linha de scrimmage – maior número dentre todos os jogadores em toda a temporada). Já contra os Ravens de Lamar, que possuíam o melhor ataque terrestre da liga, Spags colocou mais jogadores próximos da linha de scrimmage, enchendo o box e anulando o jogo terrestre (Baltimore correu para apenas 83 jardas).

Em segundo lugar vem a criatividade defensiva, mudando as tendências jogo a jogo para surpreender os adversários. Conhecido por mandar muitas blitzes, Spagnuolo chamou algum tipo de blitz (pressão com 5 ou mais jogadores) em 37% das jogadas durante a temporada regular (o 4º maior número da liga). Entretanto, nos playoffs esse número caiu para 30,4% (o 6º menor entre os 14 times que disputaram a pós-temporada). Das 41 blitzes que ele chamou ao todo nos 3 jogos dos playoffs, 21 foram nos jogos contra Miami e Buffalo somados; enquanto que apenas contra Baltimore ele mandou 20 blitzes (sendo todas diferentes uma da outra).

Todavia, esses ajustes são possíveis apenas por conta da versatilidade de seus jogadores. Enquanto se destaca como um dos melhores cornerbacks da liga, L’Jarius Sneed também é capaz de rotacionar e jogar como safety

Seu companheiro, Trent McDuffie é utilizado para apressar o passe com mais constância e qualidade que qualquer outro cornerback da liga (foram 108 snaps apressando o passe permitindo apenas 46% de passes completos para 0 touchdowns e 2 interceptações da defesa). 

No meio da defesa, Nick Bolton tem um excelente “feel for the game” e conta com toda a confiança do coordenador para alterar as chamadas defensivas. Além disso, a versatilidade dos jogadores de linha defensiva concede a Spags a capacidade de intercambiar a posição deles para produzir confrontos favoráveis contra a linha ofensiva adversária. 

Tudo isso permite a Spagnuolo, mesmo que com os mesmos jogadores em campo, alternar constantemente as formações defensiva e continuar confundindo os ataques adversários.

Assim, o coordenador defensivo consegue apresentar uma regularidade nunca vista na história da NFL. Nas duas últimas temporadas inteiras, Kansas City jogou 40 jogos e cedeu mais de 30 pontos em apenas uma oportunidade (contra os Eagles no último Super Bowl). E no ano de 2023, a defesa dos Chiefs não cedeu mais de 28 pontos em nenhum jogo da temporada – quebrando o recorde da liga para jogos do tipo em um único ano.

Agora, um time que por muito tempo foi conhecido apenas pelo brilhantismo de Patrick Mahomes, Travis Kelce e Andy Reid do lado ofensivo da bola; tem na sua defesa, liderada por Steve Spagnuolo, a sua principal força para tentar conquistar mais um Super Bowl e seguir fazendo história na NFL.

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