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Futebol

70 anos de Sócrates: Um tributo ao ‘Doutor’

Dia 19 de fevereiro de 1954, Belém do Pará. Nasce na capital paraense um menino que encantaria o planeta do futebol com seu talento e suas posições firmes fora dele, além de ser considerado um ‘bon vivant’ por ser apaixonado pelo carnaval. Este menino cresceu, ganhou a idolatria de milhões de torcedores e não é esquecido por aqueles que viram o quanto era genial dentro, e fora dos gramados. O homem terá sua história contada aqui, e será lembrado a partir desta crônica, em homenagem, um tributo ao seu 70º aniversário. Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, filho de seu Raimundo e dona Guiomar, vem de uma família de 5 irmãos, que ao desembarcar em Ribeirão Preto, tem sua história completamente virada do avesso após o ‘Magrão’, despontar com uma de suas maiores paixões, o futebol.

Era o ano de 1977, Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, Sócrates, apesar de todo o talento, e de apresentá-lo desde os tempos de calouro na faculdade em torneios de futsal, quase não treinava em razão do compromisso que tinha com o curso pelo qual se formou naquele mesmo ano. Por toda a categoria e habilidade apresentada com a bola, o técnico do Botafogo à época, Jorge Vieira, que afirmara: “jogador que não treina, não joga”, deu tratamento especial ao garoto que tinha na sua equipe, e se destacou como um dos principais personagens do clube que venceu a Taça Cidade de São Paulo, na ocasião o primeiro turno do Campeonato Paulista. A ascensão foi tanta, que um ano depois, Magrão desembarcou na capital paulista, e aí, meus amigos, novamente, a história vira por completo.

A partir de 1978, Sócrates troca a camisa tricolor do Botafogo de Ribeirão, pelo alvinegro do time que torcia na infância, não, não era o Santos Futebol Clube. Sim, é isso mesmo que você leu, o Magrão era santista na juventude, mas o alvinegro que ele passou a vestir, representar e amou até o final da vida, era outro, o Sport Club Corinthians Paulista. Na época, o clube da capital acabara de sair de uma fila de 23 anos sem conquistar títulos, que terminou no mesmo 1977 em que o craque despontara no interior paulista, num Morumbi lotado, o gol inesquecível de Basílio que explodiu a massa da fiel diante da Ponte Preta. E que viu no menino de 23 anos de idade, o nome certo para representar e colocar o Timão de volta ao jogo após anos de chacota e sofrimento na mão dos rivais.

Com a camisa do Corinthians, Sócrates viveu o auge da carreira ao conquistar três campeonatos paulista, sendo os dois últimos, destacados ainda mais pelo movimento liderado por ele chamado “Democracia Corinthiana”, no qual o clube se posicionou abertamente a partir de seus principais jogadores em favor de eleições diretas para Presidente da República, após duas décadas de regime militar. Magrão marcou presença no palanque histórico de personalidades políticas e estrelas do país, no movimento das “Diretas Já”, e em um dos comícios, levou o público a loucura ao prometer não deixar o país caso a emenda das eleições presidenciais fosse aprovada, o que acabou não acontecendo, e levando o astro para o futebol italiano.

Vestindo a camisa da seleção brasileira, representou o Brasil em duas Copas do Mundo, 1982 na Espanha e 1986, no México, em ambas a amarelinha infelizmente parou pelo meio do caminho, porém, o Doutor se destacou. Seja com gols ou lances de drible, ganhou seu reconhecimento mundial. Após voltar da Itália, jogou no Flamengo, vestiu a camisa do Santos, e por fim, voltou ao clube de origem, o Botafogo de Ribeirão Preto, encerrando sua carreira em 1989. Ainda se arriscou no mundo do futebol como comentarista e treinador, porém, voltou-se mais aos comentários, tendo apresentado e participado de programas de TV nos anos 90 e 2000.

Como citado acima, Sócrates apesar de todo talento, nunca deixou de ser um bom vivant ao curtir carnavais, fazer parte da resenha e de tomar um chopp trocando ideia com os parceiros de jornada terrestre. Sua passagem por este mundo terminou devido ao alcoolismo admitido por ele no ano de 2010, onde registrou sua primeira internação. Em 2011, num domingo, dia 4 de dezembro, última rodada do Campeonato Brasileiro, dia de Corinthians e Palmeiras no Pacaembu, às 4h30 da manhã, o Doutor desencarnou e deixou saudades para todos aqueles que puderam conviver, ver e apreciar o seu maior talento, o futebol. E muito antes de falecer, deixou a seguinte frase: “Quero morrer num domingo com o Corinthians campeão”, o que doze horas depois de seu falecimento, se concretizou e levou ao delírio milhares de corintianos saudosos pelo gênio perdido, mas que descansou feliz, por ter conseguido aquilo que desejara e por ter feito história da melhor maneira que soube.

Hoje, 19 de fevereiro, Sócrates, o Doutor, o Magrão, o Calcanhar de Ouro, estaria completando 70 anos de idade, e certamente recebendo tão bem as homenagens que já tem recebido hoje, 13 anos depois de sua partida. O botafoguense, o corintiano, o santista, o “Brasileiro”, filho de coração de Ribeirão Preto, viveu intensamente do começo ao fim, pois querendo ou não reconhecer, deixou um legado no futebol, na política, e uma legião de fãs e amigos, que jamais esquecerão, o que ele fez pelo seu país e pelos milhões de amigos que deixou órfãos após seu falecimento. Magrão, quem nunca fez a comemoração do punho cerrado feito você? Quem nunca vibrou com gols antigos seus sem nunca ter visto você ao vivo? Seu legado é evidente, é incontestável, e pro futebol, uma contribuição gigantesca. Obrigado por tudo, Doutor, que de onde você estiver, que tenha comemorações como você sempre gostou, com festa e muita resenha.

Foto: Irmo Celso/Revista Placar. 

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