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NBA

Entrevista exclusiva com Nick Nurse: Kawhi Leonard, Scottie Barnes e Bolo de Rolo

(por Eduardo Schachnik)Foi com muito bom humor que o treinador campeão da NBA pelo Toronto Raptors, Nick Nurse, concedeu uma entrevista exclusiva para a Playmaker Brasil durante uma clínica de basquete em Recife, cidade-sede da Americup, maior competição regional da modalidade.O ‘coach Nurse’ nos contou os bastidores sobre a jornada ao título de Toronto, sua visão de basquete, projetos para a seleção canadense e o que tem achado da Americup, do Brasil e, especialmente, de Recife. Título da NBA e Kawhi Leonard“Sempre sonhei com o título da NBA, imaginei várias vezes a cena levantando o troféu, mas nunca fui além disso nos sonhos, e na verdade é um mundo totalmente diferente quando você é campeão. As pessoas passam a lhe chamar de ‘‘campeão da NBA Nick Nurse’ onde quer que você vá, é incrível”. Foi com muita humildade que o treinador descreveu a sensação de ganhar a melhor liga do mundo.Mas, não se pode mencionar o título dos Raptors sem falar de Kawhi Leonard. O astro chegou em Toronto no mesmo ano em que Nurse foi promovido de assistente a treinador principal, no entanto, não estava nada feliz com o fim da novela de sua saída conturbada dos Spurs, que o “despacharam” para o frio Canadá.Nurse revela que logo sentou com o ala e conversou horas e horas sobre basquete: ataque, defesa, apenas sobre o jogo em si. A conversa foi o bastante para que Kawhi se comprometesse com o projeto: “Ele olhou nos meus olhos, apertou minha mão com aquelas mãos enormes, elas são realmente enormes! E me disse: ‘Treinador, eu lhe darei 100% de mim, treinarei 100% e jogarei 100%, mas por 1 ano. Só posso lhe prometer 1 ano, depois disso não sei o que acontecerá’”. E assim o fez.No início da temporada, após duas derrotas seguidas, a equipe estava em uma sessão de filme quando os jogadores começaram a conversar entre si sobre passar mais a bola, “passar, passar” lembra o ‘coach’. Então, quando estão todos superempolgados com a ideia de passar mais a bola, Kawhi levanta a mão e abre a boca pela primeira vez desde que chegara: “Eu não passarei a maldita bola, eu vim aqui para marcar pontos e é isso que vou fazer. Quando 2, 3 jogadores me marcarem, aí passarei a bola e vocês terão que pontuar”. Ninguém se opôs ao craque.Bem, o resto da história já conhecemos, o Toronto Raptors levou o título e as tentativas de manter Kawhi no time fracassaram. Como agente livre, Leonard assinou com os Clippers e voltou à sua ensolarada Califórnia. Nurse nos confidenciou que sabia desde o início que seria difícil manter o atleta, mas a franquia ainda tinha a esperança de convencê-lo com a grande acolhida que o astro recebeu. Kevin Durant e Scottie BarnesO treinador confirmou que ouviu os rumores sobre o interesse de Toronto adquirir Durant nessa offseason, mas disse não saber até onde é verdade. “Toronto é um dos times que tinham algo a oferecer para uma possível troca, poucos são os times que têm ativos assim, mas não sei até onde as conversas foram ou se até mesmo começaram, a NBA é uma loucura, você viu a troca de Donovan Mitchell, quem imaginava que isso pudesse acontecer?”. Disse o surpreso Nurse.Quando perguntado se era difícil treinar um jogador polêmico como Scottie Barnes, Nick deu uma bela gargalhada. “Scottie é um cara maravilhoso, ele me abraça sempre que o vejo. Ama jogar e ama vencer, é um sonho treinar alguém como ele”. O segredo do sucessoPara Nick Nurse, o segredo dos Raptors é a vontade de vencer: “Dedicação ainda é algo muito importante na NBA”. O técnico ainda disse que sua mentalidade é de competir para vencer sempre. Não lhe importa se os gerentes da franquia lhe entregam jogadores que não sabem arremessar, isso eles aprendem, mas precisam ser competidores. Nos treinos há muita competição e cobrança, atletas que não gostam dessa filosofia não duram muito na franquia, afirma Nurse.Por fim, ele revelou que é uma das prioridades da equipe trabalhar para aumentar o valor de mercado dos jogadores a cada ano, algo que ele tem feito com muito sucesso desde que chegou. CanadáComo treinador da seleção canadense, Nurse está ciente de que tem um longo caminho pela frente para poder disputar títulos de grande relevância como as Olimpíadas e o Mundial. Ele reconhece que tem muito talento à disposição, mas que a concorrência está na frente por conta da experiência de anos de competição com o mesmo grupo.”É o que temos que fazer: montar um grupo coeso e treinar o máximo juntos, participar de mais e mais competições até construir a química que vemos nas grandes seleções europeias e outras”. Falou o treinador.Além da falta de química, o técnico pontua a necessidade de adaptação ao basquete internacional: “Várias vezes quando estou na seleção tenho que relembrar meus atletas de que não estão na NBA, que o jogo é diferente, as regras, o tempo. Eles muitas vezes percebem que estão fazendo essa ‘confusão’, pois jogam no estilo da NBA automaticamente”. Explicou. BrasilNurse elogiou os brasileiros com quem trabalhou em Toronto: Lucas Bebê e Bruno Caboclo. Ressaltou a qualidade de ambos e disse que acredita em um bom trabalho de Caboclo nos Celtics esse ano.O treinador não titubeou quando perguntado se Yago Santos, a jovem promessa brasileira que vem se destacando na Americup, teria capacidade de chegar à NBA apesar de sua altura (1,75m): “Sim, ele tem um bom arremesso, o que é muito importante. Nós já vimos muitos baixinhos na NBA, o próprio Campazzo é um bom exemplo”. Americup, Brasil e Recife“A atmosfera do estádio é incrível! Assim que acabou o primeiro jogo do Brasil x Canadá liguei para meus amigos e disse que eles precisavam vivenciar isso: a energia, as cores, o barulho”. Foi assim que o americano se referiu ao que tem vivido na Americup.Nurse é casado com uma pernambucana, mas essa é sua primeira visita à terra natal da esposa. Ele se diz encantado com a cidade, a praia, o povo e as comidas. Disse que agora que conhece o lugar, planeja voltar aqui todo ano e que em dois anos já poderia conceder um entrevista completa em português.Quando perguntado sobre a comida nordestina que mais gostou, a resposta foi “the cake”, o famoso e irresistível Bolo de Rolo. A ClínicaO evento tomou a forma de um treinamento, comandado por Nurse, para jovens talentos locais, diante da presença de treinadores dos mais variados níveis.Aos treinadores Nurse enfatizou a importância de treinar arremessos: “É um fundamento muito importante, mas poucos treinadores praticam isso”. O coach afirmou que faz seus comandados da NBA treinarem arremessos como crianças de 10 anos, com foco na forma e na construção de confiança. O ‘coach’ prometeu ainda levar à Recife, em breve, sua própria clínica de arremessos.Para os atletas o recado do treinador foi sobre a importância da movimentação e espaçamento na quadra e, principalmente, sobre intensidade. Para o técnico, um dos grandes erros dos atletas profissionais é não treinar com intensidade de jogo, o que acaba condicionando mal o corpo e a mente, levando a erros elementares, especialmente na finalização, durante uma partida oficial.Nick NurseMuito simpático e atencioso, o ‘coach Nurse’ fez questão de estender o evento até que todas as perguntas do público fossem respondidas. Atendeu a todos os pedidos de fotos e contou emocionado sua trajetória desde o interior do Iowa (estado americano onde nasceu) até esse momento em Recife, protagonizando uma clínica da maior liga de basquete do mundo.Ao final do evento, Nurse foi presenteado com uma camisa oficial da seleção brasileira e, muito feliz, disse que a usaria na noite de hoje (10), quando estará no Geraldão para assistir à semifinal da Americup entre Brasil e… Canadá. *O jogo entre Brasil x Canadá acontecerá às 20h10 (horário de Brasília) e terá transmissão ao vivo do SporTV.

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