(por Bruno Rosa) “Eu disse não para o Super Bowl. Vocês precisam de mim, eu não preciso de vocês”, disse Jay-Z em sua música Apeshit, de 2018. O problema é que um ano depois, ele disse sim à NFL.Através da sua gravadora, Roc Nation, o rapper assinou um contrato com a liga que prevê que o mesmo sirva como uma espécie de consultor do setor de entretenimento, o que inclui dentre outras coisas o show do intervalo.Jay-Z entra em meio a polêmicas raciais e sociais. Não é novidade que os donos dos times possuem uma mentalidade retrógrada e escravocrata, que ficou evidenciada pelo banimento do atleta Colin Kaepernick, que em protesto pelo tratamento aos oprimidos, minorias e igualdade racial, se ajoelhava durante o hino norte americano previamente aos jogos.Visto isso, o acordo do cantor é visto no meio de diversos representantes e artistas negros como hipocrisia, como se Jay-Z estivesse traindo o movimento, sua raça e suas origens. Além disso, os argumentos são de que o mesmo sempre desestimulou artistas negros a se apresentarem no Super Bowl, pra agora assinar com a mesma liga e também de que com isso ele faça com que as atitudes de Kaepernick caiam no esquecimento e de nada sirvam.Mas, na minha opinião, tal acordo pode ser positivo para ambos.Recentemente, Jay-Z fez comentários a respeito do último show do intervalo, feito por Maroon 5, com participações de Big Boi e Travis Scott. Na sua opinião, ele teria sido contra a participação de Travis no show, mas não por protesto, e sim por que o rapper teve um ano muito melhor que o grupo de rock comandado por Adam Levine e não deveria se submeter e contentar a ser participação. Também segundo ele, se no ano passado o acordo Roc Nation / NFL já estivesse em vigor, o artista principal seria Travis, por méritos, e não somente uma participação especial.Também conta o fato de Jay-Z hoje ocupar e conseguir chegar a lugares que pouquíssimos pretos nos EUA tem acesso. Provavelmente somente Obama e Oprah gozam de tamanho prestígio. Com esse “lugar na mesa”, ele pode ser uma voz diferente e importante a ser ouvida em meio aos donos de times brancos e conservadores. Para que ocorra qualquer tipo de mudança, é necessário ter alguém dentro da cúpula e esse é outro motivo ao qual sou a favor dessa parceria.O acordo também prevê o lançamento de uma linha de roupas que faz parte do movimento “Inspire Change”, onde os lucros servirão para financiar programas sociais nos EUA, além de uma série de show chamada “Songs of the Season”.[[{“type”:”media”,”view_mode”:”media_large”,”fid”:”3635″,”attributes”:{“class”:”media-image size-full wp-image-14029 aligncenter”,”typeof”:”foaf:Image”,”style”:””,”width”:”1417″,”height”:”740″,”alt”:””}}]]As atitudes de Kaepernick foram/são louváveis e de suma importância. Na minha opinião, se hoje Jay-Z tem um contrato com a liga, muito se deve as atitudes do QB, que praticamente sacrificou a sua carreira pelos seus ideais. Os protestos trouxeram diversos problemas à tona e esse é o segundo passo, de muitos outros necessários, para que mudanças reais ocorram.Obviamente, há interesse de ambos os lados. O contrato é ótimo financeiramente para a Roc Nation e também faz com que a NFL tente parecer que está procurando evoluir e melhorar a sua imagem extremamente manchada após as atitudes contra Kaep.Então agora está tudo bem e devem parar os protestos ? Absolutamente não. Jovens negros continuam morrendo, injustiças continuam acontecendo, jogadores ainda se sentem como se fossem gado e a liga deve ouvir, se adaptar e não tolir tais manifestações. No entanto, mesmo assim, interesses à parte, fato é que agora existe um preto, com voz, no meio dos brancos e isso é extremamente positivo. Além disso, concomitantemente a toda controvérsia e segundos interesses financeiros, a NFL financiará projetos sociais e ajudará diversas pessoas que realmente precisam. Parece um primeiro encontro, uma direção à metade do caminho, do que as manifestações gritam e do que a liga pode fazer no momento. E independente se uns concordam ou não, Jay-Z é peça importantíssima daqui pra frente.
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