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Futebol

Esquenta para a decisão da Champions: A cruel grandeza merengue no maior Derbi Madrileño de todos os tempos

(por Matheus Correia) É muito comum para nós amantes de futebol no Brasil, torcermos para as zebras no futebol. O esforço, a dramaticidade na campanha de um time mais fraco, faz com que criemos certa antipatia pela equipe mais forte. Entretanto, contrariando essa ideia, a partir da década de 2010, uma grande leva de simpatizantes de clubes europeus surgiu no país. Muitos acompanhavam rigorosamente os jogos e até mesmo se consideravam torcedores destas equipes. E o fator divergente é que as pessoas não criavam afeição com os times mais “fracos” nas grandes ligas. Pelo contrário, equipes que figuravam no topo dos campeonatos, como Barcelona, Juventus, Chelsea, Manchester City, eram as que possuíam mais adeptos.Algo que pode justificar este comportamento é a necessidade de consumir um futebol mais “bonito” do que aquele demonstrado por aqui. E havia uma equipe que encabeçava essa “migração” de torcida. Uma das principais forças historicamente no esporte e que atraiu muita torcida mundialmente por causa de um jogador em específico. Estamos falando do Real Madrid de Cristiano Ronaldo.  O português, que já havia se firmado como um dos grandes craques no Manchester United, chegou em 2009 na equipe merengue.  A era CR7 O primeiro grande título do Real na era Ronaldo foi a LaLiga em 2011-12, sob o comando de José Mourinho. No mesmo ano, chegaram nas semifinais da Liga dos Campeões, sendo eliminados pelo Bayern de Munique. Em 2012-13, ficaram de mãos vazias, novamente caindo nas semifinais da UCL, desta vez para o Borussia Dortmund. Mourinho saiu ao final da temporada para um desafio no Chelsea, e Carlo Ancelotti assumiu o posto de treinador da equipe. As saídas de Kaká, Higuaín e Ozil deram espaço para as entradas da sensação britânica Gareth Bale, além de Casemiro e Carvajal.  E em 2013-14, o Real Madrid, de cara nova, procurava finalmente conquistar a “orelhuda” depois de doze anos. Em um grupo relativamente fácil, com Galatasaray, Juventus e Copenhagen, a equipe se classificou para o mata-mata sem grandes dificuldades: 5 vitórias e um empate, 20 gols marcados e apenas 5 sofridos. Cristiano Ronaldo jogava um futebol completamente estonteante, e os merengues saíram da fase de grupo como grandes favoritos ao título. Nas oitavas, aniquilaram o Schalke 04 com um placar agregado de 9 a 2. Nas quartas, se vingaram do Borussia fazendo o mando de campo valer no primeiro jogo ao vencer por 3 a 0, com um pequeno susto no jogo de volta quando viram Marco Reus fazer dois gols logo no primeiro tempo. Mas foram os únicos da equipe alemã, e o Real foi para as semifinais dando continuidade à sequência de equipes germânicas, desta vez enfrentando o Bayern.  Era de se esperar um grande embate, mas o placar no agregado conta outra história: 5 a 0 para os espanhóis. As mudanças funcionaram, e o Real estava na final da Liga dos Campeões. Mas quem era seu adversário?  A resposta estava a apenas 6 quilômetros de distância.  Os “underdogs” de Simeone O Atlético de Madrid era uma das grandes sensações do futebol na temporada de 13-14. Campeões da LaLiga, a equipe de Diego Simeone não tinha nenhum craque, mas sim um elenco recheado de ótimas peças. Nomes como Courtois no gol, Godín, Miranda e Filipe Luís na defesa, Koke, Gabi e Raúl Garcia no meio campo e os matadores David Villa e Diego Costa no ataque. Uma equipe menos ofensiva, mas extremamente competitiva, de muita garra e intensidade. Na UCL, conseguiram com certa facilidade se classificar em um grupo mais fraco: Zenit, Porto e Austria Wien. Cinco vitórias e um empate, 15 gols marcados e apenas 3 sofridos. Diego Costa e Gabi eram as referências na frente, enquanto Courtois e Miranda estavam em uma espetacular fase defensivamente. Nas oitavas, um embate grande, mas nem tão difícil assim. Contra um Milan já em decadência, venceram os dois confrontos somando um agregado de 5 a 1. Nas quartas, enfrentaram um dos piores adversários possíveis: o Barcelona. No Camp Nou, um empate em um a um com gol de dois brasileiros, Neymar e Diego Ribas. No Vicente Calderón, Koke abriu o placar com 5 minutos de partida e depois a equipe estacionou o ônibus em frente ao gol para assegurar a vaga para a próxima fase. Nas semifinais, enfrentaram o Chelsea de Mourinho. Um empate na Espanha, mas uma bela vitória por 3 a 1 em Londres, com um excelente segundo tempo. E foi assim que depois de 40 anos, os Colchoneros chegaram à final da maior competição continental do mundo.  O maior Derbi Madrileño de todos os tempos O Estádio da Luz em Lisboa recebeu mais do que uma final, mas um clássico. 60.976 pessoas presentes nas arquibancadas, sabendo que não veriam uma final de Liga dos Campeões qualquer. E é aqui que entra a parte emocional de torcer para o time mais “fraco”. Não se engane, os Colchoneros passavam longe de uma equipe ruim ou uma zebra, chegando na final invictos e até mesmo com certo favoritismo sobre o rival devido à boa fase. Mas a grandeza quase que incomoda dos merengues foram um dos principais fatores que pelo menos eu, que escrevo este texto, levei em consideração ao torcer para a equipe de Simeone. O Real Madrid já acumulava nove títulos na competição. Todos queriam uma vitória dos Los Blancos com um show de Cristiano Ronaldo. O Atlético de Madrid era um time de muita raça, vontade e intensidade. Então neste contexto, os Colchoneros eram os “mocinhos” da história.  Mas partidas de futebol não são jogadas através de contextos e sim, com a bola rolando em campo. O Real Madrid tinha como desfalque Xabi Alonso, suspenso. A situação do Atleti era mais preocupante, com Arda Duran de fora e Diego Costa como dúvida, por conta de uma lesão na coxa. O brasileiro naturalizado espanhol acabou indo para campo após o famigerado tratamento realizado com placenta de égua.  O Real Madrid se escalou da seguinte forma: Iker Cassillas, Daniel Carvajal, Sergio Ramos, Raphaël Varane, Fábio Coentrão, Luka Modric, Sami Khedira, Ángel Di María, Gareth Bale, Karim Benzema e Cristiano Ronaldo.  Já o Atlético de Madrid foi a campo com Thibaut Courtois, Juanfran, Miranda, Diego Gódin, Filipe Luís, Raúl García, Tiago, Gabi, Koke, Diego Costa e David Villa. O clima no estádio português era de Libertadores, com a torcida do Atlético vibrando de maneira apaixonada, enquanto pouco se ouvia do lado merengue. Sem muitas surpresas, Diego Simeone exigiu uma marcação intensa e apertada nos homenes de Ancelotti. E assim, o Real tinha dificuldade para criar. O primeiro fato importante do jogo ocorreu aos 8 minutos; o tratamento inusitado não funcionou e Diego Costa foi substituído por Ádrian López. O jogo era pegado, não era bonito, e o Real desperdiçava as oportunidades que tinha. O gol do Atleti aconteceu de maneira sofrida: Gabi bateu escanteio, a defesa afastou, mas Tiago, na entrada da área, jogou a bola no ataque novamente, com Godín conseguindo cabecear sem muita precisão, mas com força suficiente para que a bola passasse a linha do gol. Casillas se esforçou para alcançar, mas não conseguiu tirar a bola a tempo. 1 a 0.  O peso da camisaE se o clima era de Libertadores, o segundo tempo lembrou bastante um clássico como Boca Juniors vs. River Plate. O Real tentava de toda maneira chegar ao empate, mas o Atlético tentava de tudo para impedir, com a quantidade de amarelos aplicados pelo árbitro holandês Björn Kuipers chegando à cinco. Mas Simeone armou a equipe de maneira eficiente, conseguindo que também levassem perigo ocasional ao ataque. Os minutos passavam, e a tensão aumentava. Miranda e Godín defendiam de maneira espetacular, enquanto o Real martelava a área com cruzamentos. Até que aos 93 minutos de partida, faltando apenas dois para atingir o limite de acréscimos, os Colchoneros tiveram o título arrancado de suas mãos. Era escanteio para os merengues, e o time inteiro, exceto Casillas, estava na área. Modric cobrou, e Sergio Ramos subiu alto. Um belo cabeceio, no canto direito de Courtois. Já pouco “amado” na época, o zagueiro espanhol destruiu o coração dos torcedores do Atletico. Faltava pouco para a maior glória da história do clube. Mas o gol de empate representa que talvez, a camisa de fato pese. Não foi uma jogada trabalhada, não foi um show de habilidade ou técnica. Foi um gol, e um gol que gritava: “O Real Madrid é grande e não pode perder aqui”. Na prorrogação, a equipe de Simeone estava praticamente esgotada fisicamente. A marcação intensa cansou os jogadores, e era previsível o que iria acontecer. Os Colchoneros conseguiram se segurar na primeira etapa, mas na segunda, o gás acabou. Dí Maria passou por dois marcadores na esquerda e chutou no gol, para defesa do goleiro belga. A bola subiu e foi para o meio da área; e Bale, que perdeu chances claras no tempo regulamentar, cabeceou pro fundo do gol, vencendo Toby Alderweireld no ar. Marcelo foi um dos principais nomes da equipe depois de entrar no lugar de Coentrão no segundo tempo, e foi ele quem anotou o terceiro gol, chutando rasteiro na entrada da área. Courtois tocou na bola, que mesmo assim entrou para o gol. E para destruir por completo o torcedor do Atlético, Cristiano Ronaldo sofreu e converteu um pênalti nos minutos finais da prorrogação. 4 a 1, um placar que definitivamente não conta a história da partida.  Apenas dois anos depois, a história se repetiu. Mais uma vez com o Real Madrid saindo com o triunfo. É normal odiar uma equipe do tamanho dos merengues. É normal torcer para um clube de menor expressão quando ele enfrenta clubes mais vitoriosos. É normal ir contra o favoritismo. Mas goste ou não, a grandeza do Real Madrid também é normal. 

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