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Futebol

Gramados sintéticos: revolução ou risco para o futebol brasileiro?

(por Mattheus Prudente)A polêmica dos gramados sintéticos no futebol brasileiro tem gerado debates entre os clubes. Recentemente, essa questão foi trazida à tona pelo Boca Juniors, por meio de seu dirigente, Juan Román Riquelme, e por seu goleiro, Sergio Romero, que questionaram o gramado do Allianz Parque, pertencente ao Palmeiras.Seguindo a mesma linha de pensamento, Carlos Belmonte, dirigente do São Paulo, expressou sua opinião sobre os gramados sintéticos, afirmando ser contra os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro terem campos desse tipo em seus estádios. Embora esse debate seja relativamente novo no cenário esportivo brasileiro, ligas ao redor do mundo já estão investigando a relação entre gramados sintéticos e o aumento das lesões em atletas.A NFL lidera esse debate nas ligas americanas, com a maioria esmagadora dos jogadores criticando os gramados sintéticos e, em alguns casos, recusando-se a jogar neles. Na Liga de Futebol Americano mais famosa do mundo, a divisão entre sintéticos e grama natural é mais evidente, principalmente devido às diferentes condições climáticas em alguns estados.Mais recentemente, no Brasil, um jogador específico trouxe essa discussão à tona. Quando chegou ao Grêmio, o atacante uruguaio Luis Suárez anunciou que não jogaria em gramados sintéticos, que são comuns nos estádios do interior do Rio Grande do Sul, principalmente devido ao menor custo de manutenção em comparação à grama natural.Essa discussão promete se prolongar, e neste artigo, busco explorar as motivações por trás do uso de gramados sintéticos no Brasil, além de fazer um paralelo com estudos realizados na NFL sobre o assunto.Gramados sintéticos no BrasilNa Série A do Campeonato Brasileiro, três clubes possuem estádios com gramados totalmente sintéticos: o Athletico Paranaense (Arena da Baixada), o Palmeiras (Allianz Parque) e o Botafogo (Nilton Santos). A principal motivação para essa mudança é a preservação do gramado em estádios que sediam diversos eventos internacionais, como shows.No caso do Allianz Parque, a degradação do gramado, devido à realização frequente de shows e outros eventos, levou a críticas frequentes. O gramado chegou a ser classificado como um dos piores do campeonato brasileiro em anos consecutivos. Como solução, optou-se por instalar um gramado sintético.O Nilton Santos, por sua vez, não enfrentava a mesma demanda por shows como o Allianz Parque, mas, desde a mudança para o gramado sintético, impulsionada por John Textor, o estádio passou a receber vários eventos. Neste ano, artistas internacionais como Red Hot Chili Peppers, The Weeknd, Taylor Swift e Coldplay já marcaram shows no local.A Arena da Baixada possui uma motivação diferente. De acordo com informações do Athletico, a baixa umidade em Curitiba fazia com que o gramado fosse severamente afetado ao longo do ano, justificando a mudança. Aqueles que criticam os gramados sintéticos afirmam que eles proporcionam uma vantagem às equipes da casa. Portanto, examinemos o desempenho desses três times em casa na Série A em 2023 até agora:Botafogo (1º colocado): 13 jogos – 11 vitórias, 1 empate, 1 derrotaPalmeiras (4º colocado): 12 jogos – 8 vitórias, 2 empates, 2 derrotasAthletico (8º colocado): 14 jogos – 8 vitórias, 5 empates, 1 derrotaEsse argumento sobre a vantagem pode ser apoiado pelo desempenho das equipes fora de casa, que, embora seja muito bom, ainda apresenta uma ligeira queda. O Botafogo é o segundo melhor time jogando fora de casa, enquanto o Palmeiras é o quarto, e o Athletico é apenas o nono. Veja os dados:Botafogo: 14 jogos – 6 vitórias, 4 empates, 4 derrotasPalmeiras: 14 jogos – 4 vitórias, 6 empates, 4 derrotasAthletico: 12 jogos – 3 vitórias, 6 empates, 6 derrotasApesar das preocupações egoístas dos dirigentes em relação ao aspecto esportivo, este não é, definitivamente, o maior problema potencial associado aos gramados sintéticos.Lesões em gramados sintéticosEmbora não haja estudos que comprovem uma correlação direta entre lesões graves e gramados sintéticos, jogadores como Suárez têm se recusado a jogar em campos sintéticos no Brasil. Recentemente, Lionel Messi também afirmou que só jogaria em gramados naturais ao chegar ao Inter Miami para jogar na MLS, demonstrando uma preocupação com lesões.Nesta temporada, o futebol brasileiro testemunhou várias lesões graves ocorrendo em campos sintéticos. O São Paulo, que criticou o gramado do Allianz Parque, perdeu dois jogadores em partidas realizadas no estádio: Giuliano Galoppo e Nahuel Ferraresi.No entanto, não foram apenas os rivais que sofreram com lesões graves. Também no Allianz Parque, Dudu, um dos principais atacantes do Palmeiras e do Brasil, rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho e ficou fora pelo restante da temporada. Desde então, o Palmeiras enfrentou problemas ofensivos e viu seu desempenho cair.No Athletico, o impacto foi ainda mais significativo. Em um jogo na Arena da Baixada, Vitor Roque, artilheiro da equipe na temporada e uma das maiores promessas do futebol brasileiro, escorregou no gramado e sofreu uma grave lesão no tornozelo, também deixando-o de fora pelo resto da temporada.Como mencionado anteriormente, não existe comprovação da relação entre gramados sintéticos e essas lesões, mas é um fato que jogadores de destaque no futebol brasileiro já sofreram graves lesões em estádios com esse tipo de piso. Isso levanta a questão: Suárez, que possui uma lesão crônica no joelho, fez a escolha correta ao evitar jogar em gramados sintéticos?A NFL e os gramados sintéticosNa semana 1 da temporada 2023 da NFL, em um jogo de horário nobre, o New York Jets enfrentou o Buffalo Bills no MetLife Stadium, em Nova Jersey, em partida que estreia do quarterback Aaron Rodgers pelo time da casa. Sem receber contato direto no tornozelo, Rodgers sofreu uma ruptura no tendão de Aquiles ao pisar no gramado sintético do estádio, ficando fora da temporada e reacendendo a discussão sobre o piso na liga.Com a construção de novas arenas luxuosas, como o Mercedes-Benz Stadium em Atlanta, o Allegiant Stadium em Las Vegas e o SoFi Stadium em Los Angeles, todas com gramados artificiais, os atletas têm protestado em favor da grama natural.Cientistas americanos estão investigando o assunto, considerando variáveis como o porte físico do atleta, idade e condições climáticas, o que torna ainda mais complexa a compreensão do impacto dos gramados sintéticos nas lesões. No entanto, estudos correlacionando os gramados artificiais com as lesões ocorridas na NFL já foram publicados no “American Journal of Sports Medicine”, uma revista acadêmica renomada.Um desses estudos mostra que, entre 2012 e 2016, antes do aumento substancial dos gramados sintéticos na liga, foram registradas 4.801 lesões na perna na NFL. Essas lesões foram 16% mais frequentes em campos sintéticos em comparação com grama natural, e os autores concluíram que, se esses jogos tivessem sido disputados em grama natural, haveria uma queda de 20% nas lesões.O sindicato de jogadores da NFL, no entanto, afirma que nem todos os campos de grama natural são mais seguros do que os sintéticos e busca reduzir as lesões de forma geral, melhorando as condições dos campos, sejam eles naturais ou artificiais. Além disso, estão investindo em estudos para aprimorar os equipamentos usados em gramados sintéticos.Existe um risco nos gramados sintéticos?Como não existem estudos que comprovem uma relação direta entre lesões no futebol e gramados sintéticos, é impossível afirmar se há ou não risco em colocar os atletas para jogar em campos artificiais. No entanto, o que pode ser feito no momento é buscar melhorar as condições dos gramados sintéticos no Brasil.Uma das reclamações de Galoppo destaca a insatisfação dos jogadores em relação ao gramado do Allianz Parque. O atacante do São Paulo afirmou que o campo sintético do estádio do Palmeiras “parece society”, e Gabriel Barbosa, atacante do Flamengo, fez a mesma crítica à Arena da Baixada, chamando o gramado de “horrível” após um jogo entre as equipes.É fundamental que os dirigentes estejam dispostos a investir na qualidade dos gramados, sejam eles artificiais ou naturais. Vale lembrar que o artilheiro do líder do Campeonato Brasileiro, Tiquinho Soares, também sofreu uma lesão grave no joelho em um jogo no Mineirão, um campo de grama natural de qualidade questionável.Ainda não sabemos qual caminho o Brasil escolherá, mas o que é evidente é que a Holanda já proibiu gramados 100% artificiais, e existem discussões em andamento em outros países, como Noruega, Dinamarca e Inglaterra. Essa discussão ainda renderá muitos debates, e o que nos resta é aguardar os próximos capítulos.

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