André Cury, o empresário de Estêvão Willian, promessa do Palmeiras, e de Vitor Roque, atacante do Barcelona, culpa os dirigentes do Cruzeiro pela saída da dupla da Toca da Raposa há alguns anos. Ele aponta nominalmente Pedro Martins, atual diretor executivo da SAF, e Sérgio Santos Rodrigues, ex-presidente do clube.
Vitor Roque ingressou no Cruzeiro vindo do América em 2017, em uma transferência cercada de polêmica. Ele deixou o clube no primeiro semestre de 2022, após se destacar no Campeonato Mineiro, logo no início da gestão de Ronaldo Fenômeno na SAF.
Naquela época, o Athletico-PR efetuou o pagamento da multa rescisória em juízo, resultando no término do contrato e na liberação do jogador. No entanto, o Cruzeiro contesta o valor em um processo na CNRD. Durante uma entrevista ao podcast Storicast, Cury mencionou que havia alertado Pedro Martins sobre o risco de saída do jogador caso a multa não fosse aumentada.
A saída de Estêvão aconteceu antes da chegada da SAF. Atualmente com 16 anos, ele foi descoberto pelo Cruzeiro aos 10, em 2017. Começou nas categorias de base e ganhou o apelido de ‘Messinho’. Deixou o clube rumo ao Palmeiras em 2021, após seu nome estar envolvido em denúncias contra a gestão do presidente Wagner Pires de Sá em 2019.
Cury não detalhou os motivos do conflito com Sérgio Rodrigues, mas garantiu que o culpado pela saída de Estevão da Toquinha aos 14 anos foi o ex-presidente, citado também na situação de Vitor Roque. Sérgio deixou o comando do futebol celeste em dezembro de 2021, quatro meses antes da saída do centroavante rumo ao Athletico.
– O problema é com o Sérgio Rodrigues. Aí que a gente fala do amadorismo do futebol brasileiro. Esses dois jogadores podem valer, juntos, R$ 1 bilhão.
“É mais que a dívida do Cruzeiro, e os dois jogadores só saíram do Cruzeiro porque o presidente que estava lá na gestão estava mais preocupado em fazer política e fazer guerra política, do que cuidar dos próprios ativos dele.”
O montante mencionado por André Cury está vinculado à negociação envolvendo Vitor Roque e à cláusula de rescisão de Estevão com o Palmeiras. A transferência do centroavante para o clube catalão inclui bônus e pode ultrapassar a marca de R$ 400 milhões, enquanto a promessa palmeirense possui uma cláusula de saída estabelecida em 45 milhões de euros (equivalente a R$ 245 milhões pela cotação atual) e desperta interesse de grandes clubes europeus.
Qual foi a resposta dos envolvidos?
O Portal GE fez contato com os envolvidos. Pedro Martins, atual diretor executivo de futebol, informou que o processo referente à saída de Vitor Roque está em andamento na CNRD e optou por não comentar sobre o assunto.
Em outra comunicação com a reportagem, Sérgio Santos Rodrigues destacou que a transferência de Vitor Roque para o Athletico ocorreu após sua saída do comando do futebol do Cruzeiro. Ele também explicou que Estêvão Willian deixou a Toca da Raposa devido a demandas financeiras que não podiam ser atendidas.
“Primeiramente, quando pessoas como André Cury, Itair Machado e perfis parecidos falam de mim eu fico feliz, sinal que estou no caminho certo. Sempre repito isso quando sou atacado por gente desse tipo.
Quanto ao Vitor Roque sinceramente não entendi o sentido porque ele foi vendido muitos meses depois de eu sair do futebol, então não sei como se deu a saída. Sei o que li a respeito com a versão do Cruzeiro e do Alexandre Mattos, envolvidos na transação, e nenhum deles nunca me citou. Então realmente não sei qual minha culpa da venda de um jogador mais de 6 meses após eu não ter a gestão do futebol. Pelo contrário, foi nossa gestão que profissionalizou o Vitor Roque no Cruzeiro, com visita pessoal e elogio do próprio pai do atleta a época, o que foi registrado em fotos é publicado nas redes do clube. Logo, não posso falar sobre isso porque, repito, não participei de nada.
Quanto ao Estevão realmente foi um episódio triste. O atleta teve uma lesão séria ainda com 13 anos e eu pessoalmente o visitei em casa com nossa diretoria quando isso ocorreu e ele sempre manifestou interesse em ficar. Entretanto, apesar da manifestação de vontade dele, apareceram algumas exigências como apartamento, quantia milionária à vista e salário que, além de não serem permitidos pela legislação para um atleta dessa idade, eram incompatíveis com o Cruzeiro à época. Todos sabem a realidade que estávamos de salários até mesmo atrasados, sendo inviável assumir um compromisso desse. Mas tudo isso, repito, com diversas manifestações do pai e do atleta dizendo que queriam ficar, em mensagens trocadas com nosso Diretor à época, todas até hoje registradas. Então, infelizmente, ele saiu porque acreditamos que houve essa influência de alguém no garoto para receber algo que, repetimos, seria até ilegal porque um atleta de 14 anos não poderia receber o que foi apresentado.”
A conturbada chegada de Vitor Roque e as polêmicas envolvendo Estevão
Em meio a controvérsias em 2019, Estevão viu seu nome envolvido em polêmicas decorrentes de contratos firmados por Itair Machado (enquanto representante do Cruzeiro) com empresários durante a gestão de Wagner Pires de Sá. Em ambas as situações, o clube estaria transferindo parte dos direitos econômicos da criança, prática vedada pela Fifa e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
Um dos episódios refere-se ao contrato firmado entre o Cruzeiro e um empresário em março de 2018, para um empréstimo de R$ 2 milhões. No mês seguinte, foi acordado um contrato de mútuo, no qual o Cruzeiro oferecia percentagens de jogadores da base e do time principal como forma de pagamento da dívida, tendo Estevão William como um dos atletas envolvidos. Em junho de 2019, outro contrato foi assinado, dividindo os direitos econômicos da promessa entre outro empresário e os pais de Estevão, com 70% para o Cruzeiro, 15% para a empresa do empresário e 15% para a família do jogador. Essa prática de transferência de direitos a terceiros foi proibida pela Fifa em 2015.
A chegada de Vitor Roque ao Cruzeiro em 2019 foi marcada por controvérsias. Formado nas categorias do América, ele ingressou no clube às vésperas de completar 14 anos. A diretoria do América denunciou o rival ao Ministério Público por assédio, o que resultou em um boicote organizado pelo Cruzeiro e na proibição de participação em algumas competições de base.
O Cruzeiro e o América-MG, então, realizaram uma série de reuniões e chegaram a um acordo para dividir os direitos econômicos do jogador, que havia assinado um contrato de formação, encerrando assim o litígio.
(Foto: Divulgação/Mineirão)