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Automobilismo Fórmula 1

Acervo Técnico: Como a mudança de Lewis Hamilton altera o panorama de desenvolvimento da Fórmula 1

A largada para a temporada de 2024 da Fórmula 1 esta se aproximando e, com isso, os detalhes e nuances técnicos vem aparecendo mais uma vez. Depois de uma temporada de ampla dominância da Red Bull em 2023 e, com uma mudança bem grande de regulamento em 2026, já se esperava pouco da “disputa tecnológica” desses 2 próximos anos.

Isso até esta quinta-feira (01) e a noticia que pegou o mundo da Fórmula 1 de surpresa, com a mudança de Lewis Hamilton para a Ferrari a partir do próximo ano.

Mas ai veio o questionamento: Como (se é que iria) que a transferência de Lewis vai mudar as abordagens e panoramas para o planejamento de 2026?

A primeira coisa que temos que ter em mente é que cada piloto tem suas peculiaridades e como preferem que o carro se comporte. E claramente haverão os ajustes de acordo com tais fatores. Isso é um dos maiores fatos consumados da historia da engenharia automobilística de competição, citando ate fora da Formula 1.

Dúvidas pairam

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Foto: Getty Images

Porém, tendo isso em mente, por que Lewis escolheu uma equipe que insistimos em falar que só faz carros “ruins”? E por que ele esta deixando uma equipe em que foi campeão mundial por seis vezes, tendo carros sempre extremamente competitivos e acondicionados no seu estilo de pilotagem?

Tendo isso em mente, já podemos começar a analisar um ponto importante. Atualmente, os projetos da Ferrari e da Mercedes são basicamente espelhados. O projeto ferrarista é um carro de tocada mais suave, com frenagens um pouco maiores e um poder de retomadas incrível. Claro, possui deficiências, mas a raiz do projeto e essa mais voltada pra direção suave, algo que agrada mais a Carlos Sainz do que Charles Leclerc. Porém o monegasco mantem a postura de se adaptar a esse tipo de carro por acreditar que e o melhor carro possível.

Já o projeto mercedista e praticamente imprevisível. Um projeto de carro mais ligeiro, entregas de torque e direção mais arisca e, principalmente, um carro cuja tomada de decisão e mais “drástica”, permitindo linhas mais longas e frenagens mais curtas. Bem reconfortante para George Russell, nem tanto para Lewis Hamilton, que vem tentando se adaptar porém não com o mesmo sucesso de anos anteriores.

Como resolver as diferenças?

Então aí entramos com o primeiro entrave. O projeto em si, não é feito em torno de um piloto (ao contrario do que 90% das pessoas dizem), porém é entregue o carro que a equipe classifica como o mais rápido possível e os pilotos vão se ajustando a ele. Só que, no caso do projeto atual mercedista, por melhor que seja Hamilton, o carro não é um tipo de carro que ele vai conseguir extrair 100% do que ele pode justamente por gerar insegurança ao pilotar o carro.

E antes que perguntem, não é nenhum pouco fácil de alterar as características do carro quando são tão distintas assim. Envolve o projeto desde sua raiz com chassis, asas, desenhos aerodinâmicos, suspensões e curvas de potência dos motores. Então, Lewis ia basicamente ter que “se virar” e acostumar com essa nova realidade da sua equipe.

Ferrari busca “aliado” de Hamilton

Porém, a Ferrari, que tem um carro suave com muitas falhas, queria reduzir o numero de falhas, e foi atrás de alguém que pudesse fazer isso. O escolhido foi Loic Serra, ex-diretor de performance da Mercedes. Coincidentemente, a única voz ativa do corpo de projetos da Mercedes a ir contra as alterações de estilo dos carros multicampeões para o atual. Claramente, o maior apoiador do Lewis ao querer manter o estilo de pilotagem dos carros antigos.

Com isso, tivemos a Mercedes “se livrando” de alguém que não queria abraçar a nova cultura, e a Ferrari contratando alguém que se adequasse inteiramente a cultura dela. Um casamento perfeito das informações.

No meio desse casamento, tivemos Hamilton, que ficou sem seu “principal escudeiro” na batalha pela “direção suave” dentro da equipe de Brackley, e ainda vendo a equipe indo na direção de projeto do piloto mais novo em George Russell.

Desempenhos em contraste

Diferente dos anos de 2012 ate 2019, a Fórmula 1 não tinha mais seus incessáveis testes e orçamentos abertos pra Mercedes entregar dois carros o mais próximo possível do desejado para seus pilotos. Não tinha mais a possibilidade de ter um jovem Valtteri Bottas engolindo quilômetros de testes para entregar telemetrias e ainda ver o jovem finlandês querendo aprender com Lewis. A Mercedes teve disputas internas, limitações de orçamento e uma decisão a tomar: ir na mesma maré ou tentar inovar e sair correndo com o prêmio todo.

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Foto: Getty Images

Na Ferrari os casos são diferentes. No mesmo período, passando por maus momentos quanto a desenvolvimento e prática, dependendo da genialidade de Kimi Raikkonen e Sebastian Vettel muitas das vezes. A Ferrari fazia carros rápidos, porém nada duráveis. Imprevisíveis e, muitas das vezes, frustrantes de se pilotar e tendo dois pilotos geniais e condecorados que não somavam pra muitas horas de testes. Os estilos distintos de pilotagem fizeram a escuderia se estagnar nos desenvolvimentos, até assumir um plano: Charles Leclerc.

Com o monegasco de trás do volante a postura foi simples. “Vamos dar um carro rápido a ele”. Porém, não é o auge do casamento entre carro e piloto. Mas Leclerc, assim como Max Verstappen, tem uma postura bem semelhante: “Me deem um carro rápido que vou me adaptar”. Charles, desde que saiu das categorias de base, sempre pendeu pra um carro mais reativo, um carro mais ágil. Mas a Ferrari sempre trouxe um carro mais suave pra uma pilotagem mais sutil, e isso culmina no principal motivo também da Ferrari querer Hamilton.

Felizes para sempre

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Foto: Getty Images

Com essa soma de fatores, podemos simplesmente afirmar que Hamilton achou seu novo casamento perfeito. O piloto não só vai ter um carro voltado para características semelhantes às dele, como um companheiro de equipe jovem e feliz com a adaptação. Não vai ser um caso de piloto que não rende com um carro que não o convém, pois ele já mostrou que faz muito com apenas o que lhe é dado.

O que dá muito mais liberdade pra equipe de Loic Serra (seu ex-diretor de performance) trabalhar, o que vai permitir a ambos extraírem muito mais do carro sem essa preocupação de “como ele vai se acostumar com algo que não o serve”.

Para a Mercedes, sobra lhe fazer o mesmo que Lewis. Se ele achou um carro que o acomodasse, eles precisam de um piloto que se acomode ao carro. Dentre todos os nomes, Esteban Ocon e Alexander Albon são os que mais se destacariam com relação à adaptabilidade. Se quiser colocar Sebastian Vettel nessa lista, fique a vontade. Mas ele não vai voltar. Uma coisa é fato: se Lewis procurou um carro mais suave, a Mercedes precisa de um piloto de linha mais agressiva, para combinar melhor com seu carro.

Apertem os cintos

Agora começamos a contagem regressiva. Serão 24 etapas, esse é o período para a Ferrari começar a sanar ainda mais seus problemas, para a Mercedes ajustar o carro da forma ideal, e para os pilotos, seja Lewis na Ferrari e seu substituto na Mercedes, poderem pegar seus bólidos de 2025 e almejarem com o titulo.

A nós, resta acompanhar como vai ser essa briga e esse desfecho, e com o Acervo Técnico da semana que vem, falaremos das previsões para esse 2024, que começou com tudo na Fórmula 1.

 

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