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Futebol

As infelizes semelhanças entre os casos de racismo contra Vinicius Júnior e Lewis Hamilton, em 2008

(por Wilson Machado)Geniais, ícones dentro e fora de seus esportes, figuras influentes e vozes ativas, era assim que gostaria de estar retratando as semelhanças entre Vinicius Júnior e Lewis Hamilton, duas enormes figuras de seus respectivos esportes. Porém, hoje falaremos de dois (mesmo tendo existido vários outros envolvendo ambos) casos em especial, pois, infelizmente, se assemelham e expõem o quanto uma nação num todo pode estar atrasada e fadada a um rótulo que insistem em não mudar. Para adicionar contexto, neste domingo (21,) em uma partida da La Liga do Real Madrid contra o Valencia, Vinicius Junior sofreu mais uma vez com um ataque racista, desta vez vindo de uma parte da torcida, que entoavam, orgulhosos, adjetivos de cunho racista, que entraram como um canto de comemoração, pois, além de tudo, após a denúncia dos atos, Vinicius ainda foi expulso. A parte da semelhança com o caso antigo sofrido por Hamilton foi a ação dos espanhóis, na postura de figuras influentes, que deviam proteger as vítimas e não buscar formas de incriminá-las pelo crime que foi cometido contra eles. No caso de Hamilton, ocorrido na pré-temporada de 2008, no circuito da Catalunha, torcedores também entoavam cantos e gestos racistas direcionados ao único piloto negro do grid, e ex-companheiro de Fernando Alonso, na época, o único piloto espanhol. No ano de 2007, além de ficar à frente de Alonso usando o mesmo maquinário, e demonstrando superioridade ao bicampeão mundial mesmo em seu ano de estreia, Lewis foi bem vocal ao sempre expor os pontos ruins de se ter Fernando como companheiro de equipe, e de como ele sempre levava não só as ações dentro de pista, mas também as de fora dela muito próximas ao limite. Depois dessa briga, a McLaren teve que escolher entre um dos dois, e optou por Hamilton, o que se mostrou uma decisão acertada, já que ele viria a conquistar o último título mundial de pilotos pela equipe. Alonso, por sua vez, retornou à Renault. Indignados com a soma disso tudo, torcedores espanhóis decidiram mostrar sua indignação da pior forma possível, com insultos racistas. Mímicas, sons se assemelhando com animais, ofensas diretas e até mesmo o caso de alguns “torcedores” que pintaram a cara de preto, usaram perucas espalhafatosas e usavam camisetas pretas dizendo “Hamilton’s Family” (Família do Hamilton, no português) foram vistos nesse dia. Nisso, os dois casos são 100% semelhantes. Torcedores, indignados com seus atletas preferidos estarem rendendo menos do que os dois atacados, apelando para um crime (segundo a Constituição Espanhola, no Artigo 124) para tentar desestabilizar os atletas. Então entra na apuração dos fatos. Após os testes e a partida, existiram as entrevistas e as exposições de opiniões. Daí, pegando apenas duas pessoas em isolado, já temos a segunda semelhança. Após os testes, em entrevista para o The Guardian, veículo de notícias britânico (mesma nacionalidade de Lewis) Alonso, o principal porta-voz espanhol da categoria no período em questão, responde uma pergunta sobre os insultos direcionados a Hamilton: “Lewis deveria esperar por essa resposta da torcida, acredito que as acusações de racismo sejam fortes demais. Se julgam errados os torcedores eles devem ser repreendidos, mas isso é coisa do esporte. Quando ganhei o GP de Monza ano passado, torcedores me faziam gestos obscenos e para mim estava tudo bem, a provocação é normal.” Afirmou Alonso. Assim como Alonso, outro porta-voz de suma importância na La Ligatambém quis minimizar e relativizar as ofensas dirigidas para Vinicius Júnior. Via Twitter, Javier Tebas Medrano, Presidente da La Liga, comentou de forma a minimizar o caso, sem incisividade para querer punir os criminosos e repreender o clube que permitiram as ações. Pelo contrário, apenas insistiu em um discurso “apaziguador”, afirmando que “a La Liga não é uma liga racista”, mesmo já acontecendo nove denúncias públicas de casos só nessa temporada. Pior do que isso, também falando “a La Liga sempre combate e denuncia o racismo com toda a rigidez dentro de suas competências”, mesmo que nenhuma das oito denúncias do Vinicius Junior teve efeito de punição e três processos já foram arquivados, também sem punições. Talvez, apenas talvez, em uma coisa Javier esteja certo, em dizer que “a Espanha não é um país racista, é injusto dizer isso”, mas não basta apenas “não sermos racistas”, devemos ser antirracistas. Isso inclui condenar, agir contra e o mais importante, ser incisivo em se posicionar, sem meias palavras, sem posições de defesa que não estejam defendendo quem foi vítima dos ataques. O Alonso de 2023 provavelmente não concordaria com o posicionamento do Alonso de 2008, como ele já se posicionou em alguns eventos envolvendo diversas formas de preconceito, incluindo o racismo, e assim se espera de Javier, as torcidas, tanto a Alonsista como a do Valencia e de todo espanhol que insiste em relativizar e achar normal esse tipo de atitude. 

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