O Manchester United sofreu uma de suas piores humilhações dos últimos anos ao perder por 4 a 0 para o Crystal Palace. A equipe de Erik Ten Hag, mais uma vez, nesta segunda-feira (6), mostrou problemas defensivos crônicos agravados pelo grande número de lesões entre os zagueiros, obrigando um improvisado (e perdido) Casemiro a jogar como zagueiro junto de um machucado Jonny Evans.
No entanto, enquanto as lesões afetam bastante o Manchester United na temporada, os maiores problemas criados por Ten Hag estão em suas táticas. A equipe ocupa uma péssima oitava colocação na Premier League no momento, e, enquanto alguns times estão em uma crescente, como Chelsea e Newcastle, o United parece estar cada vez mais se afundando dentro da teimosia do treinador holandês.
Mudanças táticas erradas, contratações que não conseguem jogar e um time completamente desordenado em campo. O Manchester United desta temporada é um reflexo de um problema crônico vivido pelos treinadores desde a saída de Alex Ferguson: a falta de uma identidade no clube. O United é conhecido por ser um clube que gosta de jogar ofensivamente, mas existem muitas maneiras de atacar. Então, qual é a certa?
Neste texto, analisaremos como Ten Hag destruiu um time funcional no ano passado e o transformou em um Frankenstein sem identidade. Tudo isso para tentar implementar um estilo de jogo com falhas e buracos claros que não foram corrigidos durante a temporada.
(Foto: Getty Images)
A chegada de Onana e a saída de bola de Ten Hag
Buscando um goleiro que jogasse melhor com os pés em relação a David De Gea, o United foi ao mercado para buscar o melhor goleiro da Champions League do ano passado: o camaronês Andre Onana, vindo da Inter. A ideia era que Onana ajudasse os Red Devils a ter uma saída de bola curta, abrindo espaços no meio de campo e na fase ofensiva.
Na pré-temporada, vimos isso acontecer bem. Onana agia como um terceiro zagueiro na saída de bola, enquanto um dos outros zagueiros, geralmente Lisandro Martinez, entrava no espaço deixado pelo primeiro volante, formando uma saída de bola 3-2, com três na linha de defesa e dois em suporte no meio de campo. No entanto, um momento mudou essa configuração, fazendo Ten Hag recuar.
Durante o jogo de pré-temporada contra o Lens em Old Trafford, o United sofreu um gol do meio de campo de Florian Sotoca em uma bola perdida por Diogo Dalot na tentativa de saída de bola. Isso, juntamente com os problemas vividos pelos Red Devils no começo da temporada, fizeram Ten Hag cortar o estilo de jogo mais agressivo de Onana, deixando o goleiro em uma posição mais tradicional com uma saída de bola onde os laterais e os zagueiros não se adiantam tanto.
Isso mudou drasticamente o estilo da saída de bola do United, que, agora, sempre está deixando jogadores em desvantagem numérica. Quando Onana sai jogando curto, um dos zagueiros sempre ocupa uma posição no meio de campo, liberando um passe para o lateral. No entanto, o lateral nunca tem uma alternativa de passe por conta da pressão imposta pelos adversários em um jogador isolado no canto do campo. Pressionado, o lateral precisa tentar um lançamento longo para o ataque ou voltar para o goleiro, perdendo a posse de bola.
Outro problema com a ocupação de espaços dos zagueiros do United é a forma como a equipe fica sem apoio para sair jogando em vários momentos. Enquanto a intenção é abrir espaços no meio de campo, muitas vezes vemos que essa movimentação fecha os espaços ao trazer mais jogadores para perto do atleta que está com a bola. Assim, a chegada de Onana mudou a configuração da saída, mas a teimosia de Ten Hag em uma movimentação específica de seus defensores causa problemas.
Falta de sincronia na movimentação ofensiva
Quando o United finalmente consegue sair jogando, outro problema claro da equipe é a movimentação ofensiva. A equipe passou de uma das equipes que mais criava chances ofensivas em passes longos no ano passado para uma das piores nesta temporada. Além disso, o número de cruzamentos aumentou, enquanto o número de chutes a gol diminuiu drasticamente.
Isso se dá pela falta de sincronia na movimentação ofensiva. Em alguns momentos da temporada, o United exagerou nos “overloads”, que é quando algum jogador sai da sua posição ofensiva para tentar criar vantagem numérica em um dos lados. Muitas vezes, isso é culpa da escalação de Ten Hag. Scott McTominay, apesar de ser um dos artilheiros da equipe na temporada, cria uma dinâmica ofensiva diferente para o time, já que ele fica muito livre para atacar os espaços e criar overloads.
Ao escalar McTominay, Ten Hag não está favorecendo a equipe na fase ofensiva, já que ele teoricamente ocupa os mesmos espaços de Bruno Fernandes. Além de deixar um espaço no meio de campo para um possível contra-ataque, causando problemas defensivos, o escocês condiciona Bruno a ficar mais longe da área.
Além disso, a movimentação errada do ponta direita (Alejandro Garnacho ou Antony) e do centroavante (Rasmus Hojlund) fazem com que o United não tenha um overload, mas sim um bando de jogadores correndo para o mesmo lado e deixando de povoar a área. Em um estilo de jogo baseado em posse de bola “posicional”, as rotações precisam ser bem feitas para que as chances apareçam de forma clara, coisa que não vem acontecendo no United nesta temporada.
Problemas defensivos
Quando o United acertou a contratação de Casemiro na temporada passada, muitos esperavam que ele fosse um pilar defensivo para o United, dando permissão para Ten Hag escalar um meio de campo mais criativo à frente dele. Na temporada passada, isso funcionou com maestria, com Christian Eriksen ajudando a saída de bola e um Martínez liberando os espaços no meio de campo com o seu estilo de passes inteligentes.
No entanto, o United mudou a configuração do meio de campo para essa temporada, tentando ter o controle da parte central do campo com um meio mais combativo montado por Ten Hag. Por isso, chegaram Mason Mount e Sofyan Amrabat, duas contratações que dariam essa força. No entanto, Mount sofreu com lesões e Amrabat não se adaptou. A solução veio com Kobbie Mainoo, jogador da base que se destacou no começo de 2024.
A configuração do meio de campo, porém, ainda causa problemas. Embora o United tenha uma pressão na saída de bola boa, sendo um dos times que mais criam chances após pressionar, quando os times conseguem quebrar essa primeira linha, os Red Devils defendem em um 4-1-4-1 com apenas um homem como cabeça de área: Casemiro. Longe de sua melhor forma física nessa temporada, o brasileiro tem sofrido com os espaços deixados pelos seus companheiros de equipe na frente da área.
O maior problema é que a nova configuração de meio de campo do United para essa temporada afasta muito o meia de ligação da cabeça da área em um possível contra-ataque, enquanto os dois pontas, principalmente Marcus Rashford pelo lado esquerdo, não conseguem travar os avanços dos meias e laterais adversários, que entram livres na grande área e criam oportunidades de gol. Com isso, os Red Devils já sofreram 81 gols na temporada da Premier League e têm um dos piores índices de chutes concedidos na Liga.
E agora, Ten Hag?
A temporada do United ainda pode ser “salva” por um título da FA Cup, mas é complicado pensar que Ten Hag estará no cargo na próxima temporada. Os problemas crônicos vividos pela equipe passam muito pela teimosia do técnico, apesar de não conseguir ter o melhor time à disposição durante todo o ano. Faltaram adaptações, e, quando essas adaptações aconteceram, elas foram erradas.
Um exemplo claro dessas adaptações foi quando Mainoo entrou no time e começou a agir como um jogador que marca de um lado para o outro junto dos laterais para tentar impedir os overloads adversários. No entanto, isso deu espaços no meio de campo, e, como aconteceu contra o Crystal Palace, o United expôs ainda mais os seus zagueiros.
Parece que, a cada problema que aparece, Ten Hag cria um novo. A solução encontrada pelo United deve ser a sua saída do clube.
